quarta-feira, 9 de março de 2011

GIBRALTAR - United Kingdom



ESTREITO DE GIBRALTAR

Da Gorham`s Cave sedução.


(Presentes Freder e Catarina.)



FREDER PAZ
   Quem vem me acompanhar?

CATARINA HELM
   Sou eu.

FREDER PAZ
   Podes entrar.

CATARINA HELM
   Deves três vezes mandar.

FREDER PAZ
   Venhas, pois.

CATARINA HELM (entra vestida à maneira de gala.)
   Devemos afastar toda impertinência.
   Estou aqui, assim vestida, peço-te clemência.
   Queres vestires de tal com minha pronta ajuda?
   Pra que Possas gozar de mim na Neanderthal gruta?

FREDER PAZ
   Cada traje a trocar não afasta a tormenta.
   Privar-te sempre, há aqui alguém que aguenta?
   Com amargor desperto em todas às vagas,
   Tornou-me a existência uma pesada chaga.
   Desejo a morte, ou você!, que me amarga.

CATARINA HELM
   No entanto, nunca sou uma hospede bem-vinda!

FREDER PAZ
   Aquele que no meio de uma trança violenta finda,
   Nos braços da donzela, logo é fulminado.
   Quisera em tal sorte mergulhar, meu ser, humilhado!

CATARINA HELM (aproximando-se muito de Freder.)
   Contanto, sois alguém, que a taça em meu veneno,
   Dos lábios afastou, num momento, bem sereno.

FREDER PAZ
   Ao que vejo, instigar é o teu prazer predileto.

CATARINA HELM
   Vulgarmente não sou; mui menos indireta.

FREDER PAZ (falando aos céus.)
   Com que, vaidosa, a alma se ornamenta?
   Quando aos sentidos humanos vos atormenta?
   Que provocam delícias espúrias e vazias,
   Sempre a ofertar vossas carnes macias!
   Nos prendem a prazeres fúteis, ociosos,
   És o néctar que excita, sempre maliciosos.
   Maldita a tentação, o amor, a incontinência!
   Maldita a esperança, foi-se toda a paciência!

CATARINA HELM
   Cessa de ter horror aos meus prazeres profanos!
   São corvos que farejam tua vida dia a dia,
   Concentra-se em não estares em má companhia.
   Não pense que desejo, a força, causar-te danos.
   Sou a canalha vil que vive ao desabrigo,
   Se quiseres, porém, andar sós comigo,
   Teus passos vou guiar por escuras trilhas da vida.
   Dar-te-ei assistência amistosa e preferida;
   Serei tua serva, novelo, enfim em máximo desvelo!

FREDER PAZ
   Que desejas em troca, alguma coisa à vista?

CATARINA HELM
   Dispões de longo prazo ainda a tua conquista.

FREDER PAZ
   Dize-me a condição e fala claro perversa!

CATARINA HELM
   Quando nos acharmos, depois, do outro lado,
   Servir-me-ás, em Barcelona, como o servo calado.

FREDER PAZ
   Minhas alegrias afloram desse mundo!
   Não me provocas temores, sois catalã profundo!

CATARINA HELM
   Com as idéias que tem é possível arriscar-te!
   Une-te a mim e verás, de toda minha arte.
   Nesse dia, agora, quero logo dar-te:
   O que homem nenhum no mundo pode ter.

FREDER PAZ
   Com as tuas iguarias, ninguém, hás saciado?
   Mostra-me o fruto e me faço logo ao teu lado.

CATARINA HELM
   Com esse teu pedido em nada me intimido.
   Te sirvo com tesouros, meus bens em demasia.
   Nessa caverna vamos gozar, em paz, dessas primícias!

FREDER PAZ
   Estou com lazer num leito de delicias!
   Não me importa o crime! Assim fico liberto
   Que sejas para nós o último dia!

CATARINA HELM
   Aprovo.

(Freder e Catarina começam uma transa em grande tensão.)

FREDER PAZ
   Aguarda! Tu és tão linda! Espera, não te vás!
   Agora sim! Mantenha-me na prisão,
   Mergulho com prazer em tua perdição!
   Detenha-se o relógio, os ponteiros parados.
   O prazo para mim, então, será prolongado.

CATARINA HELM
   Pensas no que dizes. Las fatale tem memória.

FREDER PAZ
   Escravo sempre sou, em tudo o que me empenho.

CATARINA HELM
   Vejo que sim, quando em meu corpo o tenho,
   Apenas um reparo, a valer vida e morte,
   Convido-te a firmar duas linhas no papel.

(Eles terminam a transa em gozo e êxtase. Freder se recupera e retoma do último convite.)

FREDER PAZ
   És muito leviana!
   Ficarei preso eterno, sua sacana.
   Sacrifício nenhum o fará abandoná-la,
   Em que pedes que escreva, pura adorná-la!

CATARINA HELM
   Como podes falar com tanta ansiedade.

(Catarina aproxima-se do ouvido de Freder e o morde. Ele está absorto e sangrando.)

   Escreve com teu sangue, usa uma gotinha...

FREDER PAZ
   Se apenas isso julga, leviana demente,
   O faço agora para ver-te bem contente.

CATARINA HELM
   O sangue humano é tinta ardente e especial.

FREDER PAZ
   Já cresci! Aumentei! O meu corpo mortal
   Inflou todo de sangue, integro a tua beleza,
   Desligado já estou da própria natureza.
   Inspira-me horror a moral e qualquer ciência.
   Atroz sensualidade, faça-me beber da tua essência.
   Guardem-se para mim doçuras encantadas,
   Aladas naturalmente nas correntes perenes do teu vulcão!
   Só vivendo em perigo há de o homem ser cão.

CATARINA HELM
   Enfim te satisfaça e te amanse o apetite.
   Serve-te com vontade de toda minha jade!

FREDER PAZ
   Entendes muito bem, não és divertimento,
   Ódio misto de amor; agradável tormento.
   Minha alma se curou da ânsia de ser.
   É o que é distribuído as almas do mundo,
   Alcanço logo a graça no mais profundo!
   Acumulo prazeres, dores, desventuras,
   Quem sabe em ti naufragar, detenho as curas.

CATARINA HELM
   Crê em mim, oh fraco tripulante humano,
   Há milênios mastigo esse duro insano.
   Nenhum homem, jamais em Terra,
   A visto Deus de verdade! Que vos espera?

FREDER PAZ
   Verdade, embora, eu quero.

CATARINA HELM
   O tempo é muito curto, a arte é muito longa.
   Torna-te agora um inspirado poeta, em tua obra me prolongas!

FREDER PAZ
   Quem sou eu? Não posso alcançar afinal.
   Trancado com tanta ansiedade, sem igual!

CATARINA HELM
   Não és mais, meu senhor, do que és: um boçal!

FREDER PAZ
   Não quero me entrevar mais baixo do que posso,
   Nem sequer do tráfico, alguma idéia esboço.

CATARINA HELM
   Sempre agimos com a máxima prudência,
   Cuidar que do viver, não vos falte letargia.
   Então vens com o pó, o máximo dessa existência!
   E as cabeças e as nádegas são todos teus,
   Também todos os bens que gozo livremente,
   Sempre posso adquirir outros fogosos inocentes!
   E posso cavalgá-los, sou mulher dada a gozos.
   Então coragem! Larga os humanos sentidos,
   E no Azul do mundo entremos comovidos.
   E digo com razão: o homem, ser pensante,
   É como um animal no deserto, absorto e perdido.

FREDER PAZ (entusiasmado.)
   Recomecemos já!

CATARINA HELM
   Prossigamos então!
   Poder chamar-se vida sem virtude,
   A infernar-se e a infernar a eterna juventude?
   Sentes largar a vida estéril que abomina?
                          (Escuta.)
   Ouço passos de alguém vindo do lado de fora!

FREDER PAZ
   Não posso de surpresa, explicar-me agora.

CATARINA HELM

   Acalma-te! Não o deixo ir sem consolo e farra.
   Enquanto tu, preparaste para um bom passeio.
                     
                           (Freder sai.)

   Será meu logo mais! Assim hei acertado!
   O arrastarei por vida bem selvagem,
   Da sua bem humana insaciabilidade à vassalagem!
   Pedira lenitivo em frutas investidas,
   Cairá, todavia, em profundos abismos!

                          (Entra um novato tripulante.)

TRIPULANTE NOVATO
   Faz pouco embarquei e uso a ocasião,
   Para tu procurar já em alta entonação.

CATARINA HELM
   Agrada-me bastante a tua gentileza!
   Tens já o calor de navio, que destreza!

TRIPULANTE NOVATO
   Meu desejo é o contrato renovar com virtude!
   Tenho pouco dinheiro, mas o fulgor da juventude!

CATARINA HELM
   A esmola que te serves, achaste enfim agora.

TRIPULANTE NOVATO (referindo-se ao navio.)
   Para ser sincero almejo ir-me embora.
   O ambiente abafado em nada tem agrado,
   Se o pudesse o faria agora!
   Pois me vês assim, do mar, desanimado!
   Aqui se embota o ouvido, a vista e o pensamento.

CATARINA HELM
   Isso depende mais de hábito, momento.
   Logo, com prazer, a mim se queres, habituas!

TRIPULANTE NOVATO
   A ti enfim me apego a ter o tal regalo,
   Dizei então: - como posso alcançá-lo?

CATARINA HELM
   Esclareces primeiro, antes de se afastar,
   Das minhas faculdades, qual queres pegar?

TRIPULANTE NOVATO
   Pretendo em ti entrar com toda persistência,
   Com gosto aprofundar-me em toda saliência,
   Tua essência e natureza investigar de fato!

CATARINA HELM
   Enveredas assim pelo caminho exato!

TRIPULANTE NOVATO
   Entrego-me ao mister com todo corpo e alma.

CATARINA HELM
   O tempo vai logo e não pode gozá-lo com calma.
   Aconselho-te a primeiro estudar a navegação comigo.
   Vais comer e beber em meu fulgor; do meu abrigo.
   Vezes. Uma, duas, três! Quantas necessárias,
   A primeira foi-se assim, agora me dou em várias!
   À isso louvam os novos tripulantes em todos os portos,
   Os espíritos abandonam, em primeiro lugar, aos mortos!
   Encheiresin naturae...

TRIPULANTE NOVATO
   Eu também não entendo o que estas a falar-me.

CATARINA HELM
   Mas na próxima vez, vindo procurar-me,
   Comerás melhor! Reduzir é iniciar.
   Depois te empenha em bem massificar!

TRIPULANTE NOVATO
   Estou tão confuso ante esta explicação.

CATARINA HELM
   Quer entendas quer não, se a coisa é fastidiosa,
   Há sempre gosto a expressar, estou aqui maliciosa.
   Aproveitas com afinco o semestre embarcado,
   Ordena-me com disciplina, sempre me foi agrado.
   Não digas nada além do que a máfia disser,
   Se assim me queres, nesse dia, por tua mulher.

TRIPULANTE NOVATO
   Sei o valor real do que me pedes,
   Não posso trazê-la à cabine, não me deves!

CATARINA HELM
   Então encolho-me logo a tua faculdade.

TRIPULANTE NOVATO
   À direita ficar não me sinto inclinado!

CATARINA HELM
   Não te almejo tal mal, duro e execrado,
   Devo, dessa rocha, fazer-te em agrado.
   Geração e geração se infiltram com novo jeito,
   Lentamente se vão e toca-se assim no peito.

TRIPULANTE NOVATO
   Minha aversão cresceu em vosso momento,
   Talvez melhor não sejas; qualquer outro alento?

CATARINA HELM
   Não quero te levar para tal erronia,
   Difícil é separar remédios daninhos à hipocrisia
   Melhor que tudo isso é ouvir um só conselho:
   Com mim a jurar, em cabine alguma, do teto terá espelho!
   Com norma geral às pedras te apega!

TRIPULANTE NOVATO
   Mas a palavra geral de Deus há de ser companhia.

CATARINA HELM
   Muito bem! Por que deveríamos assim ter tanto medo?

TRIPULANTE NOVATO
   Perdão se a ti molesto. Da transa poço tê-la no dedo,
   No entanto algo preciso ainda conhecer.

CATARINA HELM
   Já cansei-me: expressar bondade para o apetecer,
   Expressar-me hei, agora, qual fêmea fatal!

CATARINA HELM (falando alto.)
   Das cretinas é fácil se entreter no conteúdo,
   Das grandes às pequenas sempre as verá mudo.
   Na ausência se perde o homem por inteiro.
   Cada qual se assimila ao que é capaz!
   Todos desfrutam o momento fugaz,
   Contanto em mim o homem verdadeiro,
   É o que tem coragem e destemor por inteiro!
   Se em ti tens confiança e fé,
   Todas as outras almas lhe caem ao pé!
   Aprende sobre tudo a lidar com mulheres,
   Que podes dominar, depressa, se quiseres!
   Logo as terá nas mãos seguras mais,
   O que outros só alcançam em bordéis infernais!
   Segura, com olhar ardente e bem manhoso,
   E do laço da langerie logo tens desfeito ao osso!

TRIPULANTE NOVATO
   Brava, nessa ciência existe o como e o onde!
   Oh cara! Poderia procurá-la outra vez mais?

CATARINA HELM
   Dentro das minha forças, já salvei imbecis iguais.

TRIPULANTE NOVATO
   Lançar-me alguma coisa e ponde a assinatura.

CATARINA HELM (com o dedo em riste sobre o peito do rapaz.)
   Embora igual a Deus hás de sentir calor.

(O jovem despede-se respeitoso e se vai.Freder entra.)

FREDER PAZ
   Onde será o passeio?

CATARINA HELM
   Onde te agrada muito.

FREDER PAZ
   Nunca soube, do mundo, ambientar-me,
   E nunca o quis. Contanto aonde vais levar-me?

CATARINA HELM
   Meu criado amigo, isso tudo é prazer!
   Confia-me e aprenderás em mim viver!

FREDER PAZ
   Como vamos sair? Sozinhos? pelo Estreito?

CATARINA HELM
   Segue-me que o farás direito.
   Subiremos a agradáveis alturas,
   Que na França te beijo em novas aventuras.

 
 
 
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Queres vestires de tal com minha pronta ajuda?
Pra que Possas gozar de mim na Neanderthal gruta?


Não te almejo tal mal, duro e execrado,
Devo, dessa rocha, fazer-te em agrado.


Não quero te levar para tal erronia,
Difícil é separar remédios daninhos à hipocrisia
Melhor que tudo isso é ouvir um só conselho:
Com mim a jurar, em cabine alguma, do teto terá espelho!
Com norma geral às pedras te apega!

 
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