quinta-feira, 3 de março de 2011

FREDER PAZ



FREDER PAZ

Opereta em Faust von Goethe

Adaptada pela Tradução de Alberto Maximiliano






PERSONAGENS


1. Do Prólogo no Teatro

DIRETOR
GOETHE
POETA APRENDIZ


2. Do Prólogo no Navio

TERCEIRO OFICIAL
SEGUNDO OFICIAL
PRIMEIRO OFICIAL
CATARINA HELM
O SENHOR


3. Da Tragédia

FREDER PAZ
ESPÍRITO
AMIGO JUSTOS
CORO DOS ANJOS
CORO DAS MULHERES
CORO DOS JOVENS DISCÍPULOS
JOVENS TRIPULANTES
UMA CAMAREIRA
OUTRA CAMAREIRA
UM RECEPCIONISTA
UMA JOVEM STAFF
SEGUNDO RECEPCIONISTA
UM OFICIAL
UM TRIPULANTE DA LIMPEZA
OUTRO OFICIAL
UM TERCEIRO OFICIAL
UMA VELHA SECURITY
A MOÇA STAFF
OFICIAIS DE ALTO CLERO
LACERDA O VELHO TRIPULANTE
ESPÍRITOS
CATARINA HELM
TRIPULANTE NOVATO







DECICATÓRIA




                                    Pr`aqueles quais o sr. Friedrich chamou
                                    Espíritos livres ao verem-vos vir
                                    Às mesmas sombras que outrora
                                    Encheram teus olhos radiosas sr. Johann
                                    Wolfgang von Goethe

                                    Até mesmo às que seriam no será
                                    Do sr. Chico Buarque de Hollanda

                                    Entrego-lhes à minha idêntica sina
                                    De por idade ou egoísmos
                                    Estudos rasgados numa alma velha
                                    Em corpo vil
                                    Não ter aqui um nome dedicado.

                                    “Pedirei que fiqueis junto a mim, por fim?”







PRÓLOGO NO TEATRO



Estão presentes o diretor, Goethe e o poeta aprendiz.



DIRETOR
   Não sei sobre quais terras estarias tu
   De ouvir-me em brado abrir-te o palco.
   Certo é que daqui, aos pés perante vos,
   Terras de nomes nunca; jamais vos cantarei.
   Do universal aguarda a platéia, és ansiosa;
   Sois bon vivant;
   Sabem bem viver,
   Tens numa tela em palma
   O que tentarei aqui dizer:
   Nunca estive em dificuldades tais.
   É certo que mostre-vos, à todos aqui sentados?
   À minha aflição tal, manter-vos atados?
   Não, não vos estaria em gosto.
   Pois então o que traremos que vos seja ardente?
   De sofrimento não se trata:
   Seria desrespeito com a presença tão grata.
   Mas o que podemos fazer então?
   Não estão habituados às pausas;
   Ao silêncio dessa quebra,
   Beleza quieta não vos celebra.
   No iPad do momento, leram muito,
   Leram pessimamente e mudo muito.
   Leram mesmo até este ponto?
   Interrogo-vos?
   De nada fazem os 8,8 milímetros,
   Somando massa de 603 gramas,
   Se o que processa o dual core, quão rápido o seja,
   Abarcado por vos no coração; desacostumado esteja.
   Estaríamos assim sem amplitude
   Por aplaudir sofregamente um LED tablado?
   Filme-me em high definition, você,
   Por favor, na segunda fila.
   Há duas saídas para HDMI,
   Diria: de emergência; contra incêndio nesta sala.
   Dá-me gosto saber do calor de toda essa gente.
   Do riso espontâneo numa criança dormente.
   Como o faríamos? A troca. Na mesma tela LCD?
   9,7 polegadas de desprezo e frieza.
   Espalhar necessidade por tal milagre,
   O momento vivo entre o artista e o público,
   Para toda uma geração na tela espelhada,
   Crescida e criada,
   Só o poeta é capaz!
   Há de mostrá-los hoje
   Amigo Goethe, ninguém mais.

GOETHE
   Resto-me no céu num recanto sorridente
   Maior no que mereço é o reino reluzente.
   A alegria floresce: onde o amor; a amizade,
   A mão de Deus, do alto ofício, as tece.
   As emoções são puras e fantásticas,
   Afloram à alma, envolve-me o todo inebriante.
   Da matéria esvaece-se o canto
   Está por toda parte o novo espanto!
   Descer; imaginar um palco pr`esse poema
   Poderei não mais despender sobre o tema.
   Aqui estou e nada preciso ou temo
   De vos não mais os compreendo.
   Estou desse lado e a obra buscada
   - seu brilho é passageiro –
   Inteiro no éter, a tenho ofuscada.
   Peça ao autentico; osso duro ao novo
   Poeta em sangue; estudo vil e pele
   Eterno no que lhe compele
   Para alegrar á todo esse povo
   E logo a peça a terá terminada.

POETA APRENDIZ
   Quem virá divertir o mundo do presente?

DIRETOR
   Deve-se dar à representação amplitude!
   Quem vem ao teatro o âmago quer bem cheio.

POETA APRENDIZ
   Quem sabe impressionar a massa de repente?
   Assim, sê bem disposto e vencerás?

GOETHE
   Servem-te de modelo o artista verdadeiro.

DIRETOR
   Ensinar isso ao rapaz logo me deixa indisposto.
   Trará para cá grande aborrecimento; obra de gosto.
   Vê por ti mesmo, nos sentados há algum artista?
   A metade é bem rude, a outra metade é fria.
   Dá a todos sempre mais, eis o que sugiro.

GOETHE
   O poeta tem direitos, altos, soberanos,
   Afável não deve ficar para ser amável.
   Quem harmoniza o indivíduo ao Todo Universal?

POETA APRENDIZ
   Faz ecoar clamor terrível ao aflito.

GOETHE
   Em que ele palpita em harmonia ideal?

POETA APRENDIZ
   E acende as luzes do poente em firmamento.

GOETHE
   Quem faz brilhar as cores sutis; os corais,
   Nos caminhos tais o levam aos refúgios da adorada?
   Que toda a glória alenta e cerca amortizam; amam,
   São as forças do homem que o poeta adornam.

POETA APRENDIZ
   Usaste! Usaste com êxito as forças da beleza!
   Ornou na poesia o alto empreendimento
   Como em geral do amor ao gozo, a incerteza!
   Por acaso se encontra o enlevo tormento;
   Aumenta a felicidade; faz tal à beleza,
   Também gera grande dissentimento,
   Torna-se prisioneiro e um tanto louco?

GOETHE
   Penetrai bem profundo em toda vida humana!
   Embora todos a vivam, não muitos a conhecem,
   D`aonde muita ilusão brilhante emana
   Há muitos, esse espetáculo, engana.
   Em qualquer latitude, todo poeta, deles fortalecem.
   Para rir e chorar todos prontos estão.
   Essa, caro amigo, é tua exata missão:
   Conserva as esperanças:
   Apenas já os encontra autenticas crianças.

DIRETOR
   De nada servem as palavras sobre a ambição;
   Custam a vir ao homem vacilante.
   Se te julgas poeta,
   Um verdadeiro esteta:
   Comanda a poesia!
   Bem sabes que em nossas telas do mundo
   Nada se proíbe, expõe-se o que se quer.
   Ganhamos o edital, desviamos-lhes os impostos,
   Por isso nada poupe, enriquece as cenas!
   - rumo ao inferno!







PRÓLOGO NO NAVIO

Ou no Suposto Céu



O Senhor; a corte oficial. Três oficiais. (Catarina está próxima.)



TERCEIRO OFICIAL
   O soberano navega pelo infinito – e vais,
   Soltando fumaça em torno vulcões o faz,
   Quebrando as ondas deixando anciões atrás,
   Nas obras de Deus navega o teu mito – e jaz.
   Nenhum ao leme vos obstina; tens a tua razão,
   Traçando no mar a tua nobre Ciência,
   Vens do homem à Deus, na Criação.
   Faz do que trabalha a tua essência; quiçá demência.

SEGUNDO OFICIAL
   Em volta tudo é mar ao fausto,
   O motor gira forte; irremissível.
   Tens de sorte um navio holocausto,
   Pois àlguns tudo assemelha à dor horrível.
   Do mar sobem as ondas furiosas,
   Esbatem-se nos cascos brancos.
   É em fúria em tardes penosas,
   Rasga o asco; tempo em solavancos.

PRIMEIRO OFICIAL
   Peço-vos agüentar bons companheiros,
   Ao entrar no mar, só esquecer-vos o pânico.
   As ondas batem e voam aos cascos; os morteiros,
   Resistimos nós oficiais!, á todo qualquer indômito.
   Surge do horizonte o esplendor;
   O céu abre-se em aurora.
   Logo vemos mão abertas ao redentor,
   Acode ao tripulante que quieto chora.

OS TRÊS
   Dando aos marujos a resistência,
   Ninguém vos alcança em exaustão.
   Dando ao soberano toda a essência,
   Que é a mesma da glorificada punição.

CATARINA HELM
   A vos estou de novo humilde, cara e fraterna,
   Vos que sempre mo contemplas, com todo prazer,
   E por tudo indagas que há pelo Inferno?
   Minha “tara” a teus frisos dará sempre passagem,
   Não lhes tivesse dado adoração; o meu corpo selvagem?
   Atormentar os homens é só o que pretendo.
   De todos os bichos do reino animal,
   Vos vis assemelha mais, peço perdão,
   A um gafanhoto vil de grande dimensão.
   E no lodo chafurda, e luta eternamente.

O SENHOR
   Nada mais tens para fazer?
   Surge sempre com tantas queixas a dizer?
   Como se no mundo nada fizesse de justo; perfeito?

CATARINA HELM
   Senhor, tudo ali está muito mal acabado,
   Os teus são predadores sempre a sofrer.
   Tanto que gostaria de deitar-me nesse tablado,
   E de homens nunca mais ter ou querer.

O SENHOR
   Conheces bem Freder?

CATARINA HELM
   O tripulante Paz?

O SENHOR
   És minha ovelha!

CATARINA HELM
   Não há dúvidas que te sirva em feitos especiais,
   O que o tolo adora é bem celestial.
   E move-o tal, sobre o Infinito; sem ânsias carnais,
   De que é louco, o sabes: de todo bestial!
   Contanto excluso às estrelas, o pobre aflito,
   É da Terra os prazeres que busca ou sente.
   De tudo vira em Terra; mar ou céu, algum rito,
   Não há nada que o conforte, inseto demente.

O SENHOR
   Em breve lhe darei a bela Luz Divina!
   A flor ou o fruto que desponta a mina.

CATARINA HELM
   Queres apostar? Perdê-lo-ás, a ruína.
   És noticia na televisão. Se me dás permissão,
   Levá-lo-ei comigo e traçá-lo-ei na sina.

O SENHOR
   Enquanto ele na terra a sua vida aniquila,
   Tens de mim, e já, permissão.

CATARINA HELM
   Agradeço-te.
   Nunca apreciei a estranha companhia.

O SENHOR
   Leva-o se pode com tua negligência
   Para as profundezas de tuas ímpias estalagens.
   Vê se consegue afastá-lo da divina origem!

CATARINA HELM
   Bem, bem! Cedo terás grandes decepções.
   Da aposta, somente desejo completar minhas aspirações.
   Eu triunfarei, disso estou muito certa,
   E a terra comerá o humilde, que já me flerta.

O SENHOR
   Concedo-te, sem restrições, a liberdade extrema.

(Dirigindo-se aos oficiais)

   E vós, guardiões da divina barca,
   Do mar gozai essa volúvel parca!
   Aqui a promiscuidade exulta, vibra e canta
   E vos envolve do calor em doce planta.
   - O que nessa Visão vos transpira desejo,
   Gravai em pensamentos os teus sólidos ensejos.

(O céu se fecha; vão-se os oficiais.)

CATARINA HELM (só)
   Ver de perto o Eterno – oh, quão imenso prazer!
   Com tão superior Senhor, falar e conviver,
   Para uma simples “Fatale”, é motivo de orgulho.



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