domingo, 23 de janeiro de 2011

a drill

This is a drill.


Isto é um Drill







- Drill-

Treinamento de segurança dum navio de cruzeiro; simulações de emergências no mar como: incêndio; atentado terrorista; caos em necessidade de evacuação, tudo tomado como iminente risco à vida em um naufrágio real. O drill é sugerido e facultativo - à vossa vontade Sr.(a) passageiro (a)- no dia de embarque destes. Contudo é obrigatório o comparecimento e a permanência dos tripulantes durante toda a cena. Ainda para os mesmos, os funcionários do navio de cruzeiro, o drill é aplicado com freqüência, às vezes três vezes numa mesma semana. Em caso de falta é deferido Capitan Warning. Em suma o drill é um “saco”. Em outra língua: é uma merda de búfalo que acontece na hora do descanso da fadiga.






drill deck valeta sovereign



Capítulo
I.

WARNING.





A bela oficial de raia vil e jovem
Entrou na sala com a sentença dada
Seria lida ao rebaixado inseto que ainda
Respirava duma fragosidade doce vinda das pernas.

Fixadas nas paredes do corredor estreito, ilustrações marítimas
Eram capazes de tornar os itinerários técnicos, logo ao lado, de maior lógica e
Beleza. Ou seriam exalados os aromas das axilas?
Essas alças clamando carícias sutis
Invocam glória aos verdugos. “Volte de lá com suas glândulas. A ti não o disse: mesmo em tecido vulgar
Apresenta-nos no arabesco desse uniforme a elegância; os frescos: seus pêlos negros”.


O rosto cândido sai e aproxima-se. Exclama, sem perceber as gotas lambendo-a no ar:

- SR., pode acompanhar-me- disse a Assist. Purser Director num tom brando e manso enquanto continuava- Por favor.

- Sim, é claro.


Na sala de reunião estavam sentados O Maître d`Hotel, dois Oficiais da segurança e na ponta oposta o Capitão da embarcação.
A garota ainda lhe lança um caloroso e acolhedor olhar ao sair. – nos vemos quando nós dois formos gatos e, ambos empregados, à deriva num toco, boiando em um dos seis mares, o sétimo é esse: você. Imagina o açoitado.

Quem difere o golpe é o digníssimo Sr. Capitão, interrompendo a conversa curta que travava, ele com os três da mesa, assunto dissimilar ao que viria pois mostravam os rostos sorridentes. Alguém de alma rude e pobre poderia tê-los tomado por cínicos, mas o rapaz sabia ler dos homens suas índoles e comportou-se com indiferença ao tema anterior; jubiloso, escutando somente ao que estava ali para.

- Você sabe por que está aqui?. – lembra-se de perguntá-lo, mesmo sabendo que a resposta seria sim, se ele falava a língua inglesa.

- Sim Senhor - afirma o rapaz em pé perante os ouvintes. Ele somente mira na direção do seu interlocutor, o Sr. Capitão do outro lado do cômodo.

- O caso é, meu garoto – habitualmente usava o tom paternal nos sermões- quando se está meses longe, no mar, adota-se quem quer que seja como o filho excomungado, agora em situação de necessidade- e após uma pausa, exclamou tropeçando as palavras no instante em que os dois se viram olhando um nos olhos do outro num átimo – O caso é que talvez você não esteja somente sendo interrogado por indisciplina no horário e por seu torpe exagero etílico da noite de ontem.

- Essas faltas já seriam suficientes para me tirar – ele admitia no soluço que estava fora – então não compreendo Sr. – e tomando da coragem de quem parece amadurecer num segundo, o rapaz pergunta- O que mais há que eu já não o tenha previsto. Sr.?

- Você está sendo nesse momento investigado por assassinato. E disse novamente em métrica-

As-Sa-Si-Na-To.

E continua-

- Por favor, conte-nos sem discriminar detalhe algum, sim, disseram-me que fala assim confuso quando afugentado, feito um bicho em cárcere, por favor, acalme-se, sente-se, cabe-nos saber sobre isso agora, temos tempo para que se re-estabeleça nos nervos,

Pois desejamos nós também sair dessa sala o quanto antes, quando tudo tiver sido ajeitado.

Conte-nos,
Em versos; prosa; ou talhado no seu sangue a sua confissão de culpa ou inocência - e se aproximando o austero senhor veio-lhe ao ombro e em quase inaudível sussurro disse-

- Fale-nos, desde o primeiro dia em que embarcaste tu, desse pesadelo e navio.



Ao fim disto ele somente ambicionava daquelas unhas roçando as mechas
Estarem sobre o toco, os dois boiando, ele mais a Assistant Purser em oceano
À deriva, altos, num dos seis mares e lambendo-lhe o pêlo moreno, liso e fresco
Onde os justos nasceriam sempre gatos, ali no sétimo estariam: o fim do pesadelo real
Cruzando o cabo desesperador dessa realidade sombria e lúgubre: suas glândulas;
A gata.



Cri-meee de As-Sa-Si-Na-to.
Explique-nos. Deferiu o decrépito enquanto engolia uma massa de H20.







Capítulo
II.

SANTA TERESA:
O embarque.





Assim apresenta-vos o tripulante, chegado a belo dezembro 2009








- Santa Teresa, Rio de Janeiro-

De origem e nome herdados dum antigo convento XVIII, atual recinto para falanges de intelectuais; artistas; batalhadores do academicismo e sócio-politizados, ainda que, de verve boêmitizada aos punhados, ai vê-se você: esculpida numa colina da zona Sul carioca com suas garras cravadas na Lapa; o Bairro de Santa Teresa. Suas ladeiras tortuosas em piso de pedra espanhol levam aos confins vizinhos, aqui ditos, e não em ordem de veemência formal ou relevância à obra, é bom que se frise logo: Laranjeiras, Cosme Velho, Lapa, Bairro de Fátima, Catumbi, Rio Comprido e claro, Glória. O charmoso bonde 1872 de verde que era tornaram-no amarelo. Sua passagem de maior fama continua sendo por sobre Os Arcos da Lapa, um remoto aqueduto - os arcos brancos. O Rio continua sendo. Santa Teresa torna-se e clama a si o título de Montmartre da maravilhosa. Patrimônio tombado.





Já num requinte gastronômico, Santa Teresa de Ávila nos abençoava





-Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-

De origem Capitania Real do Rio de Janeiro após a retaliação dos colonos portugueses aos pedantes franceses, já no pedaço - os índios mesmo que resolutos; valentes, caíram-, foi ti fundada: Rio de Janeiro. Atual sede das Olimpíadas de 2016. A área do Estado do Rio abrange parte esplendorosa e afortunada do que resta da Mata Atlântica do Brasil. Glorificante em sua total vivacidade de clima tropical, o bioma que adorna a jóia, a capital carioca, deixa estupefato de júbilo aos olhos daquele que a vê, sem idéias “midiáticas” e preconcebidas: do relevo de sobre tons de montanhas nas arestas e, entre a Serra da Mantiqueira e o Oceano Atlântico, emerge o teu Cristo: imponente e humilde ao mesmo tempo, cristo. O Pão de Açúcar dá de comer ao turismo. Com a mesma firmeza de sua estrutura, oh imaculada estátua! Abençoa-nos aos justos e faze-nos firmes, leva clareza também aos seus tantos rebeldes filhos; àqueles que ainda erram por ter a vida ceifada: uma guerra sem fim. Continua sendo. Patrimônio tomado.






Sobrevoa o tempo por sobre o teu adorno, Rio de Janeiro: a Mantiqueira





Assim apresenta-vos o tripulante, chegado a belo dezembro 2009
Sobrevoa o tempo por sobre o teu adorno, Rio de Janeiro: a Mantiqueira.
Logo em frente o Santos Dumont,
A vista ofusca o aeroporto, resistente emerge das águas.
Depois o terminal lotado foi-se o caminho bem escoltado, em van,
Avenida Brasil e Candelária, uma cruz e um passado, o guia explica-vos.
Os navios e na Saúde, já o porto e o teu cais.
Ao leme e o teu emprego: angústia nunca mais!
“Acalma-te” deixas-te antes pertencer ao que viria
Sem teus ais!


Mas de momento ainda voa.
Vê-te e, non mais ânsia, abaixo o lindo Rio, peça talhada.
Vê o teu Cristo iluminado; a Baía de Guanabara e, o redentor desata-lhe o peito:
Como lâmpadas duma fragata no cais, atracado nunca mais!, por completo o toma Rio
E renasce um outro qualquer: um “brand new” espírito por seus ossos lassos; esgotados.
De perspectiva estonteante, embarca sorrindo o tripulante.

-welcome on board-

Dali não antevia obscuro pesadelo como o tal
Segues a estes departamentos e carimba o teu “Check In”
Por favor, permite-me senhor, um gole d´água para fluir.


Sois destemido, oh viajante! Aguarda-te à margem, de acanto,
Nada mais, memórias irrisórias, não mais o ocupam.
Àquela remota existência, daqueles demais bibelôs,
Deixam-te, sois robusto sem a vil angústia em dorso.

Enquanto antes andava enamorado pelas beiras
Liberta-o toda a ríspida iridescente e fonte, ora pois
Arrebata-o a Nova época e em dollar e euro vem-te o sonho;
O desejo leva-o percorrer por mares e oceanos nunca antes imaginados:
Um navio soberano; um leme; uma vida deixada em terra.


O azul já o aguarda, mas como se de tal não o fosse digno
Imediato o velho continente: eis a névoa tenebrosa que o consome!
Senhor é isso e, nada mais!


“por que trouxe-me? comprazes em me torturar?”
Deixe-me e continuo, verá que dessa sala e nessa voz,
Um assassino nunca haverá e nunca houve. Ouve-me
Era o Rio e era belo, a companhia já me aguardava
Era ela e trajava saia, chamou o táxi em elegância.


Como era leve aquele tecido; suas patas,
Fomos ao “Santa” em gana e sem ganância. Senhor,
Poderia ter sido isso ou nunca mais.


Por tuas ruas tortuosas, belas és em curva a tua fronte
Que ao aproximar-se um obstáculo, em meu braços viste apoio
Ao movimento brusco do taxista. Oh era sábado e era sol,
Não imaginas despudor que causas no ignóbil confinado
Ter-te ia ao meu lado, possuir-te num desses casebres nobres
De Espanha não quero mais, senhor, era o céu e nada mais!


Já num requinte gastronômico, Santa Teresa de Ávila nos abençoava.
Olhava-a fixamente, teu ar lânguido bem tenro o descreve o mestre, sr.
Proust. Era num beco escuro agora, anjo de Botticelli na capela posta.
Oh senhor! não posso mais, abracemo-nos e nada mais!


Deslizava minha outra mão ao longo da face
Olhos prestes a saltar em lágrimas os vi:
Eram os afrescos da Sistina,, no tato de semelhantes gosto
Em cheiro essa vista do teu colo, era o anjo! Era ela o anjo
E tudo o mais! deixe-me deixe-me, voltar para teus seguros flancos



Uma saia leve de veludo, uma blusa branca de neve,
O meu cisne não o verei jamais, leve-me de volta capitão, senhor,
Aquele é o meu cais.


De atravessar pro azul nós nos falamos.
Antes filhos, fazermos a adega, ah era um gole
Na breja e uma carícia a mais. O petisco no guardanapo
Uma letra antiga, escrita guardava, ela, arte florentina! Oh picante
Sabor do condimento, um outro prato, a cachaça e este samba ais saia fina
Diga-me não parecer com o paraíso prometido, qu`eu lhe confesso:
Responder desse interrogatório não crer mais! quê queres mais de mim,
O senhor e esses capangas oficias, não me vê ser sincero,
Não poderei mais! Só quero ir, trabalho aqui talvez, nunca mais!


Guarda e termina com esta tortura aqui e ali.
Perto de ti em se esquivar, carrego e lavo louças infinitas, portanto
Não passa nada se o fizeres dum pouco o mais. Leve-me contigo ao azul
à Europa
De carícias infernais, em esses ais,
Meu cisne de Santa: encare esse afresco que abre-se nos meus lábios,
Seríamos nós sempre e, essa treva, jamais.


Isso está como a nuvem negra que vemos surgir no horizonte,
Deixamo-nos entrar sem precaver-mos que hora ou outra a tormenta
Nos aflige, nessa sala, os nervos, deixamos para trás tudo o mais.


Foi-se Santa Teresa, foi-se o Rio.
“Estranho o teu cristo, Rio” que não me alertas-te dessa colina, do declive
Como roubada que foi minha mochila em Ipanema, surrupiou-me do céu.


E agora entrevejo e posso dizê-los, caros oficiais:
Foi armação! Armação pesada de princípio em Búzios.
- Perceberam nos búzios o que eu começava saber sobre o navio, meticulosos,
E armaram para mim - disse o rapaz resoluto.


Ah sim! Claro que posso contar-vos.
Com o mesmo deleite que no momento me vem à memória,
A clareza dos pormenores dessa trama de crime no navio.
Antes, uma límpida massa de h2o, por favor!





Prevendo que seria muito pedantismo pedir que a Assistant Purser viesse ela o servir, se acaso o pedisse, pegou-a, ele mesmo o jarro prateado, e ainda trêmulo deixava cair um pouco do líquido gelado pelas arestas do copo à sua frente. Na mesa calaram-se em aguardo do próximo deslize, passo, meio que seduzidos, hipnotizados pela eloqüente narrativa, atraídos em ver até onde agüentaria nessa sua fantasiosa mente dissimular por seus argumentos o inevitável; o veredicto que já era dado como certo, contudo - que mal faria acompanhá-lo na dança?- assim, ouviam-no um pouquito de mais ...








Capítulo
III
ARMAÇÃO DOS BÚZIOS.





- Armação dos Búzios, Rio de Janeiro -

Localizada na Região dos Lagos, essa Saint-Tropez Brasileira, ai está você: Armação dos Búzios; carinhosa e mundialmente aceita – Búzios – somente dita. Essa península com vinte e três praias é docemente aliciada tanto pelas correntes do Equador quanto pelas do pólo sul, tornando-a como metáfora d`algum distúrbio bipolar ou algo assim, gélida e ao mesmo tempo caliente, em seus líquidos salgados. “Foi base de piratas, ponto de tráfico de pau-brasil e desembarque de escravos africanos”. O boom imobiliário e da exploração turística de Búzios deve-se a estada nessas águas da madamoiselle Brigitte Bardot. Diga-se de distancia, na época, serias bem-vinda em qualquer canto deste mundo. 1964. A atriz francesa na Rua das Pedras, continua sendo.



- E de com a lavanderia é o ambiente respeitoso e agradável. -





"A orla da francesa alinha-se, adornada e colorida pelos barquinhos de pesca que ali atracam, como num vestido de época: la belle epoque"
E de com a lavanderia é o ambiente respeitoso e agradável.

     Era de manhã bem cedo e Freder Paz corria para lavanderia no deck zero. Estava no exato momento numa das corriqueiras “escapadas” do buffet matinal; fugas onde se é hábito deparar-se com alguém, un`outro funcionário ou funcionária em turno pelos corredores, que de olho de canto e frase reta diria: “ahan ta fugindo né”, pois ainda em serviço corria-se, nas pernas e no risco – um desrespeito de terceiros à ousadia -, poderia ser delatado por algum chupa saco qualquer mesmo se não achado pelos oficiais. Eram fugazes e inacreditavelmente traiçoeiros alguns destes; frequentemente ameaçados de virarem “ração pra peixe”, durante discussões do bar da tripulação e nos intervalos, nos motins dos crew. Armou Freder para recolher as roupas dele, deixadas vinte minutos atrás na laundry, numa das máquinas de lavar do navio, em sabão em pó e água quente. E por isso corria tanto assim.
     Paz pegou o elevador no décimo primeiro andar, não sem antes literalmente enfiar um bolinho pela goela, sacando-o do troller da reposição do café-da-manhã dos hóspedes. Se caso topasse com um dos supervisores no elevador seria certo o warning “para que se eduque” como se dizia por lá ironicamente, quando não em fato. Assim tornava-se mais seguro haver esperado o elevador no andar décimo ou nono, de menor movimento, porém o risco trazia um excedente de sabor inefável ao folheado croissant de presunto e ao bolo de milho, assim supunha. O elevador parou no andar primeiro, onde está a grande alameda que cruza toda a barca, a Champs-Elysées do soberano e, também boa parte das cabines da tripulação, consultório médico, purser office, reciclagem dos lixos, estoques de comida e bebida diversos, por dito é um lugar ilustre, de baixo d`água e na madrugada. Posto de movimento constante e perigo maior de ser flagrado em delito, contudo não cruzou por ela nesse instante Freder. Paz desceria um único andar pela escada dos fundos e “ya està!”.
     A lavanderia – laundry - era naquilo do que se poderia narrar num romance um ambiente magnífico, - não o buffet!-. Ficava no deck zero, na área da proa do navio, e em clima é literalmente um inferno devido ao calor que emanava das máquinas de todos os tamanhos. Contanto, naquilo que se diz que o inferno de Dante é o ambiente mais agradável por seus habitantes, na Sagrada Família, - a aura que se constrói pela índole dos que vêem-, aqui poder-se-ia também contá-lo em analogia sobre os tripulantes responsáveis pelo mantimento; a segurança e o bom funcionamento da lavanderia. È certo que poucas das máquinas de lavar e secar destinada lhos, “crew fucky menbers”, estavam funcionando na hora de pico, “hororshow!”, mas isso era somente devido ao uso incorretos desse mesmo sistema, pelos tripas, que diante à displicência dos seus guardas lavas.
     As filas em determinados horários eram enormes. E onde há demanda por tempo há trabalho e oportunismo de miseráveis: a máfia cresce.
     Máfia: o serviço terceirizado e cobrado por fora pelos próprios tripulantes e prática comum dentro de um navio de cruzeiro. Às vezes troca-se serviço por moeda, noutras, por demais benefícios, de acordo com as regalias, de departamento a departamento, tenderiam em propiciar e oferecer algo que de outra maneira não lho poderiam acometer. Assim poder-se-ia trocar refeições noturnas sacadas do restaurante por papéis higiênicos extras, por exemplo. Geralmente isso demanda mais ganho de tempo que propriamente qualidade e seguridade do serviço recebido, o qual se dispõe em pagar por fora. Assim poderia ter Freder Paz pago a propina para algum dos funcionários baixos, nunca aos chefes e oficiais, para “vigiarem” - lavar e secar as suas roupas. As mesmas seriam entregues já dobradas e passadas, serviço ofertado aos próprios oficiais e ao “alto clero” sem custo algum. Paz levava-as ele mesmo.
     As propinas incluem: cortes de cabelo; faxina de cabine; lavagem e secagem de roupas – como dito-; massagens diversas pra quem fosse adepto destas, para as mulheres: depilação; corte e tintas de cabelo, cremes diversos; feições das unhas e, ao lado dos serviços, ainda existem verdadeiras vendas, lojas cabines, onde sempre aparece alguém em busca de utensílios para o trabalho: camisas extras de uniformes, abridores de vinho, sapatos, sem que o tripulante precise comprar em terra ou nos free shops de bordo. Tudo era consumado e arranjado para que assim o fosse e funcionasse tal que em hora de folga ninguém precisaria utilizar-se do tempo livre para cuidar-se. Os mesmos benefícios quase sempre eram feitos de madrugada ou entre os turnos, de tal modo que é hábito e nos passa despercebido o “black market” da máfia. Os tripulantes literalmente poderiam e seriam avistados, muitos deles já dormindo, enquanto o colega ou a colega cortava o seu cabelo, nos corredores mesmo. A limpeza pós o crime é fundamental, diga-se de passagem.
     O delírio é que na lavanderia sempre teve música. Eram de diversos sabores e rítmicos e dependeriam do “menu” do dia e da nacionalidade de quem estivesse em cargo; do turno em que precisava-se usá-la. Contanto de manhã ou nas altas horas; dentro da madrugada, antes mesmo de se entrar lá já ouvir-los íamos os sinos da laundry, os sons vindos de algum rádio mantido pelos “bispos” dos lenços, panos e lençóis. Os dias para os uniformes, pois os tripulantes deveriam apresentar-se sempre alinhados, ao menos em roupa, são divididos por departamento. Segundas e terças Housekeeping, quartas e sextas Bar e Restaurantes, ou algo como. O certo é que dia de embarque - aos sábados nos cruzeiros de sete dias -, seriam dedicados totalmente às facilidades dos hóspedes e é aconselhável ao tripulante nem aparecer por lá porque serás recebido com cara feia das Filipinas. Do mais, todo o serviço é gratuito e funciona doravante ao tripulante saber-se organizar no pouco tempo que despende para tal.
     Catarina Helm estava ao lado da máquina de lavar onde Freder aguardava suas roupas limpas, restando um minuto ainda para o fim do serviço e vendo suas roupas girarem. Eram como um turbilhão feito suas glândulas. Perguntou-lhe se ela ainda usaria a secadora – as máquinas de secar ficam sobre as de lavar e essas podem ser abertas alheatoriamente-, diferente das de lavar que são lacradas, até o final do processo, podendo ela ter notado com o tato de unhas tais, rosas sobre a pele cortada. Levantou-se na ponta dos dedos dos pés e esticando-se mostrou-lhe parte da esbelta cintura num dos cortes do uniforme. Ambos estavam sem tempo e ansiosos por algo, então srta Helm respondeu-lhe rapidamente: “Pode falar-me em nosso idioma, visto que somos do mesmo país. Minhas roupas estão secas”, disse pegando-as já com pressa, e novamente olhou agora para Freder, como alvo, dos olhos e retendo-se em seu crachá: “Ok Freder Paz, toda sua”. De um jeito que a fez parecer uma parola dentro de uma concha, pronta e disposta a ser colhida, em tônica maior.
    
     - Obrigado, Catarina. See you I wish – disse-lhe enquanto ela já saía com as roupas no colo.

     - Course you will, não tenho muito aonde ir, tenho? – respondeu-lhe sem saber que falas desse gênero, em frente á pessoas que esperam recolher roupas novas, dum turbilhão, possam fazer e recolhem em vista as roupas baixas de corpos elegantes e, aos olhos do mudo, levam-no futuramente até provocativas e insinuantes; altas nos limites, das ondas do desejo ao grito.

Assim é de como a lavanderia tornara-se o lugar dos mais agradáveis.

A decida á orla de Búzios é feita em escunas ou lanchas médias.

     È com entusiasmo e deleite que chegou ao cais da armação, meio que já ouvindo alguns novos sotaques, estranhas línguas dos feirantes aos caiçaras aos gringos ás sereias, músicas de vários estilos e cores e tons aos ouvidos apurados; sem preconceito como os dele eram. Perfeito refúgio para espairecer de semanas atribuladas de esforço descomunal, duma melodia desafinada, estaria de momento afinando mudança dos ares, ares confinados e secos das salas fechadas duma fragata, para uma única corrida feita. Sairia em procura da paz; um fumo verde; uma breja garrafa e talvez, fazer amizades em terra firme, foi o que imaginou Freder Paz ao pisá-la de primeira estação ti: Rua das Pedras.
     Ícone do balneário, em fumaça a Rua das Pedras é uma ilustração bem talhada do glamour da região. Apresentando algo como 600 metros de extensão sugeridos, é uma passarela que reúne bares badalados, cozinha sofisticada, lojas de marcas e grifes internacionais, cafés, galerias de arte e artistas de tv “soup opera stars”, além de casas noturnas famosas: quando a noite cai e o tom amarelado toma conta de ser nas pedras, em cada espaço um assunto novo começa. De madrugada a marola intermitente da juventude, estrangeiros e casais faz o comércio restar forte por dentro da noite.
     A Rua das Pedras se estende rumo à Orla Bardot, praticamente uma continuação da via. A orla da francesa alinha-se, adornada e colorida pelos barquinhos de pesca que ali atracam, como num vestido de época: la belle epoque. Nos salpicados decks de madeira, entre os bancos e os jardins, estão instaladas as esculturas de bronze de visitantes famosos como a atriz Brigitte, também de JK, ex-presidente Juscelino Kubitschek. “Moradores e trabalhadores ilustres – os pescadores – também são homenageados ali, através de um belo monumento assinado pela artista Christina Motta”. Lia ele.
     Badalada rua da cidade de Búzios, era na década de 60, somente uma passagem em terra de chão para o mar. Foi num desses restaurantes ao longo da Rua das Pedras que Freder Paz avistou Catarina Helm passando, ela esquivou-se como se quisesse esconder algo ou com quem estivesse no momento. Nesse leve deslize aquilo nada causou-lhe de indigesto, pois assim o era normal agirem muitos dos novos conhecidos de bordo. Avistou logo á frente, num dos quiosques da orla, o simpático Justos, amigo que viria ser e que do nosso espírito já nos avisa servindo-nos um gole. Tinham uma sede inigualável àqueles dias de Brasil.

     - Disse-lhe sobre ela – argumentava Freder – Disse-lhe que era uma mulher obscura e o que depois viria eu saber melhor; a fundo – falava como se fosse esclarecendo para si os fatos e suas suspeitas, mas se clarificou que os ouvintes, agora se irritavam com suas explanações vagas.

     - Senhor Paz, podemos passar esses pormenores que nos conta nessa sala, por favor, adiante-nos ao que realmente interessa-nos – insistia o capitão e seguia reto no rosto de Freder:
    
     - Diga-nos como planejara, sr. Paz, e executara sua primeiro morte – aqui Freder inspirou um temor irresoluto enquanto ouvia - O assassinato frio do sr. Borges, chefe de segurança, que agora foi encontrado nos cais sujos da cidade de Salvador.

     O capitão lançou-lhe em frente, sobre a mesa, o envelope de onde caíram as fotos dum cadáver em decomposição. Freder Paz olhava àquilo com asco e pavor. O homem havia sido deixado amarrado nas cordas do cais para morrer afogado. Esmagado por um navio de toneladas e qualquer bandeira.





"Nos salpicados decks de madeira, entre os bancos e os jardins, estão instaladas as esculturas de bronze"



"Ícone do balneário, em fumaça a Rua das Pedras é uma ilustração bem talhada do glamour da região"



"A Rua das Pedras se estende rumo à Orla Bardot, praticamente uma continuação da via"






Cápitulo

IV
BAHIA DE TODOS OS SANTOS




- Salvador, Bahia. -

Primeira capital do Brasil e capital do estado da Bahia, fundado como São Salvador da Bahia de Todos os Santos, em triangulo e no vértice: o farol; aí está você: Salvador. Metrópole com maior percentual de negros fora da África, estatística que lhe garante a nomenclatura de “Roma Negra”. Cidade de maior número de descendentes africanos no mundo, seguida por Nova Iorque. Dividida em cidade alta e cidade baixa, catolicismo e candomblé. De antiga coluna de pedras erguida no centro da praça, para os devidos castigos aos escravos, o Pelourinho atual torna-se um grande centro cultural. Repleto de construções coloniais em diferentes tonalidades de cor; Patrimônio da Humanidade. Na base do azeite-de-dênde e do leite de coco tempera-se o Bonfim e homenageia-se a Iemanjá. Nenhum dos teus santos resolverá com facilidade as chagas dum tempo antigo: África marginal contornada em Europa; carnavalesca e rica: Orixás, Inquices e Voduns, guarde-lhe todas as vestes o vislumbre de salvação, amém.






em triangulo e no vértice: o farol; aí está você: Salvador




     Borges Miroslav era um búlgaro carrancudo, porém simpático. Pagara o motorista com notas limpas de dólar americano, instruindo-lhe, detalhada e pausadamente, o local onde deveria esperá-lo, novamente e em breve, na sua volta. Deixado ali, Borges caminhou por algumas quadras até que avistasse o edifício onde haviam combinado a reunião. Era um local horrendo, nas paredes, entre os cacos, escorriam infiltrações d´água em manchas abstratas de bolor. Ele imaginou como alguém pudesse viver ali. Na porta do cômodo escolhido e indicado por um número quebradiço sobre a soleira, no final do corredor do segundo andar, estavam dois seguranças que aguardaram identificação do búlgaro e encaminharam-no para dentro.
     A sala era simples em móveis. Havia no canto direito de quem entra um sofá claro onde se via, repousando e com um cigarro aceso, uma bela senhoria morena em mechas vestindo uma saia curta preta e um corpete agarrado que lhe avolumava os seios. No outro lado desta, onde os raios de sol advindos da janela numa manhã do Rio batiam, havia sido arrumada uma mesa e sobre esta, numa toalha de renda, algumas bebidas; água; café e alguns comes qualquer. No centro, de frente para quem entra, estava um homem de curta idade, sentado em uma cadeira de escritório, velha e barulhenta nas juntas, com os pés apoiados numa mesinha de vidro. Ao fundo desta cena, um dos seguranças que agora ficou dentro do cômodo, lavava algo na pia enquanto o outro guardava a porta, saindo em silêncio. O homem jovem reclinou-se e terminaram uma conversa em risos dela, descruzando e cruzando, aonde vir-se-iam riscos doces duma pele bem macia sobre a outra, ele dirigiu-se agora ao Borges.

- Há em Sofia calor igual – perguntou-lhe o rapaz enquanto levantava-se o cumprimentando.

- Não passaria nem perto, senhor. – Respondeu Borges aceitando um copo d´àgua gelado.

- Pois eu lhe digo, aqui é mesmo o paraíso, com este Cristo e todo o mar do Rio aos pés, mas é preciso estar preparado para tamanha adversidade – e apontava um ar condicionado portátil no canto.

     Borges podia agora ver todo o ambiente, ileso ao clima, em que se encontrava. As janelas com vista da baía, a garota sentada no sofá com as pernas devidamente cruzadas, o segurança que tomava com suavidade a xícara de café, e o homem que lhe dirigia a palavra e agora o indicava o assento dele.

- Por favor. – e ambos sentaram-se - Não aprecio muito a prolixidade sr. Borges, e acredito que todos nós, aqui nesta sala, não dispomos do tempo que gostaríamos para dividir nossa agradável companhia, assim começarei logo no motivo de estarmos aqui. – e falava enquanto se aproximou da bela fazendo-lhe algum carinho no rosto. – Soube que o sr. estaria descontente com a cota acertada pelo envio da mercadoria – perguntava sem olhar-lhe.

- Não sem justificativa, meu caro, os riscos agora são maiores. Disse-lhe Borges aferindo as palavras um tom de quem já houvesse treinado esta frase.

- E de quanto o risco maior de enviar 15 quilos de cocaína da pura para o seu chefe em Barcelona, fazendo-te nisto um funcionário de grato apreço ao mesmo, nos custaria aqui em porcentagem. - Aqui o traficante deu ênfase - como se estivesse num monólogo bem dirigido - nas palavras: Risco, Maior, Cocaína, Pura, Apreço, ao mesmo e porcentagem.

- Deve-se entender que a transação que lhe ponho não passa pelo chefe na Espanha, senhor. Disse ele como que advertindo – O “mago” de nada saberia, - então Borges balbuciou algo sem muito sentido continuando com certa clareza - Mas é que eu terei que alimentar alguns outros tubarões... àqueles que me ajudaram na cadeia e, principalmente, molhar o novo rato do navio, para que tudo ocorra no mais absoluto segredo e na segurança necessários. – Disse-lhe de uma vez:

- Bom, eu lhe peço um acréscimo de 5% no valor total.

Como que se aguardasse pela conclusão dita, a adaga que lhes corta as cabeças, o clima havia mudado na presença ao ar na sala. Sem lhos precisar dizer em acréscimo, na reunião de negócios percebe-se, por uma tempestade muda, o incomodo que lho causa, as partes envolvidas, uma proposta abusiva de algum dos cantos, e encerra-se rápido uma bonança prevista.

- Está bem senhor Miroslav – e concluía seco - Vocês partirão semana que vem daqui do Rio de Janeiro com toda a carga, cocaína direta da fonte na Colômbia, sem interventores, e o sr. terá a tua propina em mãos, dentro de dois dias, na parada do navio em Salvador, para que nada lho seja desconfiado.

- Agora deixo-vos partir porque tenho mais do que tratar. Afirmou diretamente com rancor na voz trêmula.

     Eles se levantaram e cumprimentaram-se friamente. Borges estava gelado com o sentido direto das ultimas frases e, de certo modo constrangido por haver o acordo, por fora, sido decidido tão rapidamente. Encontrou-se com o motorista no local combinado e rumaram de volta ao porto.

     Nesta mesma noite houve um princípio de festa a bordo; a despedida soberana da temporada brasileira de 2010, no bar da tripulação do navio, enquanto saiam da costa do Rio. Borges tentava visualizar em alguma provável dançarina a mulher que havia visto de manhã no sofá do quarto sujo. Ele estava rijo no nervo entre as pernas somente por vislumbrá-la em sua memória.

     Borges ouvira à Freder conversando em italiano com alguma guria. E como se trombaram na ida ao extremo sul do toilette, resolveu perguntar-lhe.

- Então compreende bem diversas línguas, sr. Paz.

- Sim sr. Miroslav – Freder confirmou o nome lendo no crachá - Já morei dois anos no Azul – referia-se à Europa - E aprendi muito lá, agora sou muito feliz por poder voltar – Realmente demonstrava entusiasmos, alegria que às vezes levantava rumores e, certa inveja aos demais tripulantes.

- Tens um futuro grandioso aqui sr. Paz – acreditava sinceramente Miroslav – Claro, se souber agarrar a oportunidade – e então com as mãos sobre os ombros de Feder – Deves enxergá-las e manter os olhos e ouvidos atentos, sempre nessa balsa – e também, - Ah claro, o mais importante, somente falar o necessário, seja em qual língua o for. E saiu.

Três dias depois, em Salvador, sr. Miroslav estaria morto. Esse diálogo, sem as falas descritas, foi registrado pelas câmeras de segurança do barco. E era usado, no instante presente, no interrogatório aferido e contestado por Freder Paz.

Borges já estava indo em direção à sua cabine, no andar dos comandantes e oficiais, no deck alto, quando foi barrado no corredor pela srta. Catarina Helm, que lho aparecia deslumbrante saindo duma entrada mágica, como num feito de OZ, exatamente a mesma mulher do sofá, que estava na sala lúgubre do Rio de Janeiro.

- Acho que não precisamos de maiores apresentações, sr. Borges.

- Então... você, não...

- Não se preocupe sr. Borges, digamos que sou uma garantia de luxo, para que tudo saia bem, de serviços maiores do que aparento fazer e, ao seu dispor essa noite.

    E Catarina entrou na cabine de Borges. Foi esta, sem duvida, a experiência sexual de maior vigor selvagem que esse ilustre búlgaro pode gozar, nos lábios; nos seios e dentro dos imensuráveis sacros dessa vulva negra e simbólica. E cerrou-lhe com um convite de querer mais e despediu-se, como se aquilo fosse um presente por sua destreza búlgara de negociação, sentiu-se no sétimo céu, enquanto bem próximo das ondas.
     Borges corria apressado com seus afazeres tentando manter a disciplina necessária para um oficial alto da segurança de navio de cruzeiro. Organizou o treinamento da manhã, preencheu listas e mais listas de relatórios advindos de departamentos mil, testou equipamentos e maquinário de ponta e caríssima tecnologia, contanto não podia disfarçar uma afoita e saliente veia em sua testa, que somente significava desejo; quando teria o gosto de novo: Catarina Helm.
     Quando teve um tempo subiu até o deck 12 a caça dela. Não a tendo encontrado, sentiu-se mais e mais oprimido por uma angústia que lhe escapava a razão. Havia telefonado-lhe uma vez e, a necessitando na cabine, resolveu esperar no bar dos oficiais para pedir um drink, enquanto a gosmenta atendente lhe lançava um olhar, que somente a ela, parecia sedutor. Bebeu aquilo num gole e ordenou outro que lhe foi servido com a mesma destreza e tentativa de afogamento em banhas. Levantou-se, não a encontrando naquele dia.
     Em sua porta, bem cedo, às sete e trinta, ouvira três toques de punhos mansos. Abriu e era Catarina. Ele tentou agarrá-la puxando-a para dentro da cabine, girando-a sobre seu corpo e apertando seus dotes carnais todos, mas ela desvencilhou-se e, voltando ao corredor, pôs-se alinhada arrumando o uniforme. Vendo que outro tripulante deixava outra cabine e, cumprimentando-lhes, os acompanhava no corredor, Miros se conteve, retornando com um aceno desgostoso, e perguntou a srta Helm:

- Por onde você esteve?

-Tive meus motivos para não aparecer. – mantendo no corpo uma distancia que lhe cortava o ensejo de possuí-la ali - Agora escute, quero que me encontre sem falta na doca três, do porto, à um quarto paras nove da noite, esta certo?

-Sim, - e meio que suplicando numa baba tentava – Por que não fica um pouco agora.

- Estou em serviço, - e aproximando-se do rosto dele para concluir, arrastou-o nas letras Catarina - De noite, estará Salvador em pleno carnaval na Barra, a folia e a rebentação dos fracos, e ninguém poderá nos atrapalhar na dança, - Nesse momento ela virava-se deixando encostar-se no dorso e seu corpo no pau de Miroslav, e virando somente o rosto desferiu- Estamos entendidos.

-Sim. Ele salivava.

-Então, acalme-se sr Miroslav, e va se limpar, por favor. Ela saiu.

Na doca 3, em pleno carnaval de Salvador e na escuridão, não havia viva alma,. Borges entrou mantendo algo certo: o receio nos passos, mais ansiava por meter os dentes naquela carne lúcida de Catarina, nem se fosse por um segundo, somente quando foi interrompido em língua búlgara:

-Então, irmão Miroslav, planejava fazer negócios sem contatar a família – e saindo da penumbra apareceu um velho conhecido antigo do grupo.

Borges Miroslav enrubesceu e seus olhos arregalaram, saltando para fora do rosto, não mais quando um sujeito gigante agarrou-lhe pelas costas enrolando um fio de aço no seu pescoço enquanto o estrangulara. Quando esse não mais se debateu, desfalecendo por completo sem ar e de língua estendida, fora amarrado e lançado ao mar, junto de um peso, em uma corda grossa. Sabiam que dia o outro apareceria, sua carcaça podre flutuando, mas que aquilo servisse de alerta a qualquer outro desgraçado que traísse ao combinado.

O barco seguiu para o Rio de Janeiro, dentre dois dias, a cocaína puríssima, de gosto do mercado azul, foi carregada com o tempo e a segurança, renovados e no convés, enquanto o atual chefe da segurança terminava o serviço, olhando para o alto, vira Catarina, srta Helm, involuntária, contudo assídua e delicada e saborosamente lhe acenou com o braço.

Agora nos aproximávamos da algum novo momento.
Uma virada; uma travessia e, non sem justo dizer, não era somente Freder Paz que a desejava, com afinco e garras, aquela travessia, o crossing, contanto todos que ali viviam e que resistiram ao teste da costa brasileira.
Agora seguiam, e seriam doze dias em mar aberto, cruzando o oceano Atlântico. Ainda que o fosse, com especiarias a bordo, um risco a todos dali se firmava. Freder cumprimentou Catarina ao cruzarem-se no corredor, o desfiladeiro do deck um, a alameda da Champs-Elysées. Um simples olá, e um provável infindo caminho de despedidas futuras. Estavam rumo, proa em vapor para um caminho estreito, e somente em solo firme de novo; estariam no Estreito de Gibraltar: entrada do Mar Mediterrâneo para quem lá estivesse vivo.

O soberano partia.




 Rappel no elevador Lacerda, Salvador - Bahia



 @ Justos - elevados da baixa e da alta, Salvador - Bahia



@ justos - O velho o mago o Bar do Rául, Salvador - Bahia





....

domingo, 9 de janeiro de 2011

O esboço d`um Livro

07.1.11

ao lado esquerdo superior dum calhamaço de sulfites,
do qual falaremos ainda do título do capítulo, na folha,
d`uma das setenta páginas, do antigo xerox da Universidade,
está escrito:

A exata linha que divide os oceanos ?
-o símbolo da interrogação está circundado. Importante.

abaixo da frase, quase que colado à ela e não respeitando o espaço
da palavra oceano e do símbolo "?" circundado, está o desenho:

um esboço tosco do globo terrestre, bidimensional, tentando dar forma
aos contornos dos continentes, as grandes massas terrestres da Terra- nenhum
dos continentes têm nome no desenho. Importantíssimo.

os únicos nomes são os dos Oceanos que circundam os contornos rudes:
-no topo: Ártico
- na parte central e cruzando toda horizontal da folha: Pacífico, Atlântico, Indico,
Pacífico- a na parte inferior: Antártico

Nenhum dos nomes está acentuado ortograficamente no desenho, como alguns daqui.
Sem relevância alguma. E somente lapso da pressa.

o desenho se delimita por uma grande circunferência.
Estão dentro da mesma esse estranho Globo,
e o risco tem uma quebra no estremo esquerdo do corte do sulfite,
e acima, não se feicha deixando no centro superior a palavra "ocenanos ?"

ainda do lado esquerdo da página e logo abaixo do desenho,
estão grifadas duas frases que supõem-se os titulos- são elas:

Só Os Mares têm Nome (sugerida-sabe-se Deus por que camada reprimida da mente,
como a primeira proposta de título ao livro)

e

Só os Mares Gozam
(essa sim sublinhada, demonstrando a irascível preferência do autor).

Do lado superior direito da mesma página estão os grifos:
Visão Global
Mundo: Só os Mares Gozam - novamente grifada e agora sem dúvidas o título.

abaixo e importantíssimo ao quadrado o título do capítulo do estudo,
no calhamaço de súlfite que nada tinha de haver com ter sido o aparato desse
esboço de manuscrito- Segue:

"IV. O Período Pré-Hitler 1930-1933"
-o calhamaço é um abrangente estudo lançando vista dos filmes
alemães produzidos na efervecente Berlim pré nazismo no poder-

um traço vertical preto (do material fotocopiado) divide esta inscrição,
do que vem abaixo, dando contínio à este depoimento de manuscript-
tese dos dizeres arraigados ao sublime e, sublimado:

EUROPA- AZUL
ÁSIA- AMARELO
ÁFRICA- VERMELHO
AMÉRICA DO NORTE- AZULADO DO ALTO
AMÉRICA CENTRAL- AZULADO DO CENTRO
AMÉRICA DO SUL- AZULADO DE BAIXO
OCEÂNIA- VERDE SUDESTE
OS POLOS- BRANCO.

abaixo disto e assinado: Acantiza 07.01.11 (numa grafia pedante e estilizada)

Não bastesse, saindo da marcação rude de autoria, segue um traço do lápis
de grafite mais espesso- o autor estaria "deliciando" seu desenho de livro
e enredo anterior troca de lápis ? - que sobe em espiral na parte lateral
direita da folha e nos guia até a próxima pagina:
- virando a página, seguem os finais desse delírio lúcido:
(que nos são introduzidos não pelos habituais ":" mas,
por uma cabeça de serpente- vejam só-) segue:

Catarina Helm - a Famme Fatale do Queen Mary II

Freder Paz - livre pensador de empregos esporádicos

ambom tem nacionalidade no "Azulado Baixo"- América do Sul-
e ambicionam pertencer ao "Azul" - Europa.

Desparte à isso, se tira claramente que o enredo, un tanto claro e autobiográfico,
da próxima obra se passa numa Terra imaginada onde os Continentes não têm nomes
próprios, pois as terras(nacionalidades) estariam elas mesmas diluídas feito a água, então
em ironia a isso o autor resolve somente delimitar em nomes os Oceanos.
Seus personagens, por enquanto:
Uma mulher sedutora que vive(eu) no Queen Mary II e,
o óbviu alterego, FREDER.

Sem mais notas, dou por encerrado relatório da noite,
09 de janeiro de 2011, às 01:21:48

restamo-nos em aguardo.
((( )))
.

1821


1821

A palavra tem um gosto doce, enquanto ela desce num gole hostil à boca, contanto suave à alma: - È uma honra apresentai-vos este meu cadáver.

La demoiselle de Chabrol


Int - Cabine 1821-

- Sendo noite ou dia, nós as chamaremos: Cavernas de Morcego - Eram mil e tantas. Se você as visse naquela maquete do navio, no quarto deck, exposto bem ali no hall de entrada do restaurante El Duero, veria uma hierarquia do luxo em design bidimensional, navegando cada qual com os seus andares de classe, retaliados em cores. “Você está aqui”.

Para alguém que pretendesse contar algo de novo nessa era de 2011, direi que no covarde mercado das coisas, pós dez anos de sua exuberante previsão, Sr. Kubrick, não projetaram ainda as cores do caráter. Aguardo o dia em que possa ver em tela, ou maquete, a iconoclastia tonal de uma conversa entre humanos. Gostaria de contar sobre a tela que vi e que mostrava ao vivo aos envolvidos as cores do caráter dos seres: a narrativa silenciosa por trás da pele. Contanto seria supor, matéria da Literatura que espero desempenhar bem. Assim, fica ao julgo do literato a tentativa descrever as nuances que nela, e nele, a carne e seus segredos, habitam. Aqui só tratarei do crime da 1821, pois dela fui parte.

O do porquê das cavernas de morcego?

A cena seria um tripulante enquanto dormia. Ele, ou ela, abriria os olhos estalados, seu nome seria Murnau. Dois dos oficiais estariam vindo para habitual inspeção de cabine. Ao acordar, prevendo a entrada certa e hostil dos oficiais, o Hondurenho do departamento do restaurante e o Nigeriano da segurança, sr. Murnau nos passaria a sensação de profundidade em seus olhos: os vampiros antevêem o mal.Verímaos em seqüências paralelas os oficiais caminhando pelos corredores apertados do Corso Veneza, e depois descerem as escadas até o andar dos tripulantes. Quando abrissem a porta, depois de algumas pancadas não atendidas, veriam o Sr. Murnau, pendurado em vertical na escada do beliche, suas pernas presas em gancho na penúltima barra degrau: assim como fazem os morcegos, sobre as torrentes invernais agarrados.

Murnau ergue-se, num mesmo movimento como quem faz flexões, impulsionando seu tronco cervical, a cama acima unida à cama abaixo pela escada e por sobre ela, pendurado, um tanto calmo, está Murnau. Ainda calmo enquanto observado pelos oficiais, alçando-se até chegar com suas narinas ao mesmo plano da estante, ele então cheira mais um pouco do pó de barata – ZAPPT - e voltava dormir, se fosse travessia, ou acelerava, se fosse dia comum de serviço, dizendo-lhes- Senhores, por favor, fechem essa porta e deixem-me aqui mais um pouco. – Não devo repetir-vos- Não é cortez incomodar-me enquanto me aqueço-

Pó de barata é algo de um filme que agora não me lembro, estou tentando pesquisar no Google. Levou mais que cinco minutos e está atrapalhando o fluxo: o escritor começa ter alucinações com a máquina de escrever que vira um bicho estranho com asas e um furo nas costas feito um ânus ou vagina. É de um erotismo bizarro e a tal máquina inseto insulta o cara locado num apartamento podre com restos de garrafas de destilado. Na trama a ficção dos caras, escritores, artistas e outros doidos e loucas é o pó de barata, que está escasso. Assim parece.

Caríssimos bloggers, se essa pequena sinopse não os ajuda lembrai-vos, caríssimos, por favor, não passem mais que os mesmo cinco minutos pesquisando e voltem pr`essa minha narativa.

Em voga, o ambiente da 1821, terá sempre a mesma luz artificial.

Digamos um esverdeado, justificado por um letreiro cênico: um outdoor de motel americano, e alguém da fotografia deve e pode chamá-lo: ponto de referência ou alguma outra merda: fonte de luz, de nome de alguma mercadoria, Budweiser, como em cenas internas de Wenders no Der Amerikanische Freund, mas teria que ser ele para dar esse tom para aquela vida.

Esverdeado, amarelo, escuro, não da natureza, mas das telas do Sr. Win. Desculpem-me crianças cegas de nascimento, por não sabê-lo descrever com palavras sofisticadas: vocês veriam bem melhor que alguns fotógrafos. Disso temos certeza.

- Seria: O Prelúdio ao Seco da Palavra.

- Peraê- dá-me um tempo- vou dar uma mijada.




Naquela noite a 1821 estava digna do nome ao qual lhe deram os seus habitantes: Auschwits, “câmara de gás infernal”. Numa referencia nublada a fumaça que causavam os baseados que lá fumaram.

- Existe algum esquema de tráfico de pó e prostitutas dentro dessa merda.


Se parássemos à frente da porta 1821, ou em todas as outras claves harmônicas dos quatorze decks, cubiertas ou andares, nós somente a abriríamos se tivéssemos um cartão magnético, de certo o 1821. Nas cabines reservadas aos tripulantes, como a 1821, veríamos os nomes dos dois habitantes na pequena alça plástica ao lado direito e à altura média. Os conheceríamos em símbolos, grifados e em relevo.

Daqui se começa narrar uma dentre tantas outras medidas de controle e padrão, prevenção e segurança, câmeras e vigilantes, feito em 1984 de Orwell, meu grande irmão leitor, com o cartão magnético. E o Togo a cantar nos teus bosques. Como era o nome do pássaro?

Ele começou perceber naquela tarde, sentado ao bar logo após deixar a cidade do Estreito de Gibraltar, com seus morros coroas da rainha e macacos, começou ter um pressagio do que tudo era.

A moça que lhe servia bebidas seria a puta de luxo. O cara ao lado talvez um cafetão e dealer, estava tudo começando se fazer claro por trás das cortinas. O esquema o barco as pessoas.

Era o que ele teria dito.

Se não fosse encontrado na 1821, com um tesoura enfiada na jugular, em baixo do beliche e morto.


Esboço criado em:
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010, 15:18:07


acervo pessoal do escritor
o estreito a a pena