domingo, 9 de janeiro de 2011

1821


1821

A palavra tem um gosto doce, enquanto ela desce num gole hostil à boca, contanto suave à alma: - È uma honra apresentai-vos este meu cadáver.

La demoiselle de Chabrol


Int - Cabine 1821-

- Sendo noite ou dia, nós as chamaremos: Cavernas de Morcego - Eram mil e tantas. Se você as visse naquela maquete do navio, no quarto deck, exposto bem ali no hall de entrada do restaurante El Duero, veria uma hierarquia do luxo em design bidimensional, navegando cada qual com os seus andares de classe, retaliados em cores. “Você está aqui”.

Para alguém que pretendesse contar algo de novo nessa era de 2011, direi que no covarde mercado das coisas, pós dez anos de sua exuberante previsão, Sr. Kubrick, não projetaram ainda as cores do caráter. Aguardo o dia em que possa ver em tela, ou maquete, a iconoclastia tonal de uma conversa entre humanos. Gostaria de contar sobre a tela que vi e que mostrava ao vivo aos envolvidos as cores do caráter dos seres: a narrativa silenciosa por trás da pele. Contanto seria supor, matéria da Literatura que espero desempenhar bem. Assim, fica ao julgo do literato a tentativa descrever as nuances que nela, e nele, a carne e seus segredos, habitam. Aqui só tratarei do crime da 1821, pois dela fui parte.

O do porquê das cavernas de morcego?

A cena seria um tripulante enquanto dormia. Ele, ou ela, abriria os olhos estalados, seu nome seria Murnau. Dois dos oficiais estariam vindo para habitual inspeção de cabine. Ao acordar, prevendo a entrada certa e hostil dos oficiais, o Hondurenho do departamento do restaurante e o Nigeriano da segurança, sr. Murnau nos passaria a sensação de profundidade em seus olhos: os vampiros antevêem o mal.Verímaos em seqüências paralelas os oficiais caminhando pelos corredores apertados do Corso Veneza, e depois descerem as escadas até o andar dos tripulantes. Quando abrissem a porta, depois de algumas pancadas não atendidas, veriam o Sr. Murnau, pendurado em vertical na escada do beliche, suas pernas presas em gancho na penúltima barra degrau: assim como fazem os morcegos, sobre as torrentes invernais agarrados.

Murnau ergue-se, num mesmo movimento como quem faz flexões, impulsionando seu tronco cervical, a cama acima unida à cama abaixo pela escada e por sobre ela, pendurado, um tanto calmo, está Murnau. Ainda calmo enquanto observado pelos oficiais, alçando-se até chegar com suas narinas ao mesmo plano da estante, ele então cheira mais um pouco do pó de barata – ZAPPT - e voltava dormir, se fosse travessia, ou acelerava, se fosse dia comum de serviço, dizendo-lhes- Senhores, por favor, fechem essa porta e deixem-me aqui mais um pouco. – Não devo repetir-vos- Não é cortez incomodar-me enquanto me aqueço-

Pó de barata é algo de um filme que agora não me lembro, estou tentando pesquisar no Google. Levou mais que cinco minutos e está atrapalhando o fluxo: o escritor começa ter alucinações com a máquina de escrever que vira um bicho estranho com asas e um furo nas costas feito um ânus ou vagina. É de um erotismo bizarro e a tal máquina inseto insulta o cara locado num apartamento podre com restos de garrafas de destilado. Na trama a ficção dos caras, escritores, artistas e outros doidos e loucas é o pó de barata, que está escasso. Assim parece.

Caríssimos bloggers, se essa pequena sinopse não os ajuda lembrai-vos, caríssimos, por favor, não passem mais que os mesmo cinco minutos pesquisando e voltem pr`essa minha narativa.

Em voga, o ambiente da 1821, terá sempre a mesma luz artificial.

Digamos um esverdeado, justificado por um letreiro cênico: um outdoor de motel americano, e alguém da fotografia deve e pode chamá-lo: ponto de referência ou alguma outra merda: fonte de luz, de nome de alguma mercadoria, Budweiser, como em cenas internas de Wenders no Der Amerikanische Freund, mas teria que ser ele para dar esse tom para aquela vida.

Esverdeado, amarelo, escuro, não da natureza, mas das telas do Sr. Win. Desculpem-me crianças cegas de nascimento, por não sabê-lo descrever com palavras sofisticadas: vocês veriam bem melhor que alguns fotógrafos. Disso temos certeza.

- Seria: O Prelúdio ao Seco da Palavra.

- Peraê- dá-me um tempo- vou dar uma mijada.




Naquela noite a 1821 estava digna do nome ao qual lhe deram os seus habitantes: Auschwits, “câmara de gás infernal”. Numa referencia nublada a fumaça que causavam os baseados que lá fumaram.

- Existe algum esquema de tráfico de pó e prostitutas dentro dessa merda.


Se parássemos à frente da porta 1821, ou em todas as outras claves harmônicas dos quatorze decks, cubiertas ou andares, nós somente a abriríamos se tivéssemos um cartão magnético, de certo o 1821. Nas cabines reservadas aos tripulantes, como a 1821, veríamos os nomes dos dois habitantes na pequena alça plástica ao lado direito e à altura média. Os conheceríamos em símbolos, grifados e em relevo.

Daqui se começa narrar uma dentre tantas outras medidas de controle e padrão, prevenção e segurança, câmeras e vigilantes, feito em 1984 de Orwell, meu grande irmão leitor, com o cartão magnético. E o Togo a cantar nos teus bosques. Como era o nome do pássaro?

Ele começou perceber naquela tarde, sentado ao bar logo após deixar a cidade do Estreito de Gibraltar, com seus morros coroas da rainha e macacos, começou ter um pressagio do que tudo era.

A moça que lhe servia bebidas seria a puta de luxo. O cara ao lado talvez um cafetão e dealer, estava tudo começando se fazer claro por trás das cortinas. O esquema o barco as pessoas.

Era o que ele teria dito.

Se não fosse encontrado na 1821, com um tesoura enfiada na jugular, em baixo do beliche e morto.


Esboço criado em:
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010, 15:18:07


acervo pessoal do escritor
o estreito a a pena

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