domingo, 13 de março de 2011

BARCELONA - Cataluña, España.



BARCELONA

HOTEL LA FEITICEIRA



                                                                   Sobre um fogão aceso encontra-se uma grande panela com caldo fervente. Os vapores que surgem dela se elevam para o alto do aposento. Freder e Catarina estão presentes, sentados no beiral de uma cama velha de casal. Catarina levanta-se e segue ao fogão e rápido ela inala o vapor alucinadamente. Freder logo a imita. Ambos rodam ao redor do fogo, inalam mais vapor, eles riem e se abraçam e quando se dão por si, sentam-se ao chão.



FREDER PAZ
   Prometes que acharei alguma melhoria?
   É um sujo quarto que me afasta euforia.

CATARINA HELM
   Aqui logo estará um sujeito de tino.
   Eleito por todos como o mago rabino.

FREDER PAZ
   Desejo conhecê-lo.

CATARINA HELM
   Limita a natureza a tua inteligência
   E no que sei, dele terás benevolência.

FREDER PAZ
   Em navio rude e estreito não terei prazer!

CATARINA HELM
   Só há um jeito então: ao Mago recorrer!

FREDER PAZ
   Por que exatamente a esse cara depender?
   Não pode você mesma a droga recolher?

CATARINA HELM
   Cruzar o mago é antes de tudo extrema insolência.
   De espírito sutil em anos incansáveis,
   Deu tempo à droga em efeitos razoáveis.
   Dizem que o próprio Diabo lhe ensinou,
   Ao seu remédio pôs nome e espalhou.

(Toca o interfone. Catarina levanta-se para atender.)

   Trago-lhe uma amostra humilde de vapor,
   Para que dê o apreço e rentável valor!

                              (falando ao interfone)

   Ah sim, saiu a comer, pela Rambla beber,
   Aqui por ele esperamos, diga-te, os amos.

FREDER PAZ
   Hotel tão feio jamais no mundo hei visto!

CATARINA HELM
   Imensa clientela achareis; fareis listo!

FREDER PAZ
   Dinheiro alcançar é a alma salvar?

CATARINA HELM
   Assim vai o mundo, soberbo e profundo.
   Também vais morrer, e pó hás de ser!

FREDER PAZ (Diante ao espelho, ora se aproxima, ora se afasta dele.)
   Não devo errar nessa vida e mal fazer.
   Posso ver através de espesso nevoeiro,
   Uma celestial mulher mo toma inteiro,
   Nesse corpo estendido que a beleza encerra
   Posso encontrar-me com igual figura na terra!

CATARINA HELM
   De bom há de fazer algo nesse mundo!
   Farta-te logo com o teu lindo tesourinho,
   Que vem e te leva à casa como noivinho.

FREDER PAZ
   Estou a enlouquecer! Alarde o vapor a mirar.

CATARINA HELM
   Minha cabeça também começa a girar.

FREDER PAZ
   Meu peito se incendeia, fujamos ligeiros.

CATARINA HELM
   És poeta sincero e bem verdadeiro.

(A porta se abre e entra o Mago. Ele corre ao fogão e a panela cessa de soltar vapor.)

O MAGO
   Malditos animais!, sabeis que com vapor
   A lidar é difícil se controlar! Quereis por
   Meu quarto à queimar?

CATARINA HELM
   Foi só brincadeira à tua maneira.

(Catarina fala enquanto abrem as janelas e tomam o ar das ruas.)

   Tomeis no braço, meu amo, a tua escrava.
   Não reconheceis, nesse traje, por baixo a lava?
   Devo meu nome dar só para o teu regalo?

O MAGO
   Não precisas para tanto, cara Catarina,
   Fui brusco ao saudar-te, minha heroína!

CATARINA HELM
   Essa vez perdôo, tamanha impertinência,
   Pois muito tempo faz não temos convivência.
   Passei da moda à usar jovens a milhares,
   Bons anos já fazem, à ti sou alhures!

O MAGO
   Quase perco os sentidos com a surpresa.
   Posso servi-lhe hoje à mesa? Quero-te sobre.

CATARINA HELM
   Proíbo-te! Contanto até à noite minha alma se abre.

O MAGO
   Mal não te fiz, e não há outro que prefiras.

CATARINA HELM
   Não duvides do sangue! É nobre feito às safiras.

O MAGO (gargalhando)
   Há Há, Sempre foste marota em toda parte!

CATARINA HELM (dirigindo-se ao Freder.)
   Observa e aprende: ao Mago se trata com magia.

O MAGO
   Dizei então, meus caros, de mim que almejais?

CATARINA HELM
   Um cheiro do elixir famoso e, sabes mais?
   Escolhe um dos velhos; dos perfeitos:
   Os anos lhe redobram em efeitos!

O MAGO
   Vos ponho da qual eu mesmo provo.
   És tão pura que desta chama-se a Cura!

                           (falando baixo)

   Posso ao homem servir sem cuidar-me?

CATARINA HELM
   Esse é um jovem leal que irá ajudar-me.
   Dá-lhe um risco bem cheio e a bom saborear.

                                          (o mago com incrível alarido, traça um círculo e no seu interior coloca objetos fantásticos; os copos começam a tilintar, a panela a ressoar, produzindo uma estranha música. Faz sinal a Freder para que se aproxime.)


FREDER PAZ (dirigindo-se à Catarina)
   Não! Dize-me primeiro a que serve isso tudo!
   Essa farsa infernal inspirada no luto.

CATARINA HELM
   Não me faças sorrir, deixas de graças!
   Não sejas tripulantezinho indócil e estreito,
   O Mago pode agir também por trapaças,
   Toma-te o remédio que em ti produz efeito!

                           (Empurra Freder a entrar no círculo.)

O MAGO
   Deves compreender: do nove é só um!
   A conta é encerrada e zumbis o zum!

FREDER PAZ
   Ao que julgo, cara, começas a delirar!

CATARINA HELM
   É apenas o princípio.
   Com ele já gastei tempos de aprendiz,
   É dele um raciocínio de se julgar e diz:
   É sempre indecifrável dos sábios aos imbecis!
   Meu amigo, essa arte é velha e também nova.
   Mentiras a espalhar em lugar de verdades,
   Apregoa a rotina e te renova!
   Em geral o homem crê por ouvir a trova,
   Quando deveria raciocinar um pouco.

O MAGO
   Depressa! Acessível! É um mundo doente e louco!

FREDER PAZ
   Que está ele a falar, sem nexo ou sentido?

CATARINA HELM
   Basta! Vamos parar, orgulhoso metido.
   És homem de alta classe e tens muitos diplomas,
   Aceitas logo a oportunidade ou depois não reclamas!

(O mago oferece, com muito cerimonial, a bebida em uma taça. Freder a leva aos lábios.)

CATARINA HELM
   Vamos bebe depressa! Avante! Avante!

O MAGO
   Que te inspires prazer um gole desta massa!

CATARINA HELM (dirigindo-se ao Mago)
   Se posso te agradar em algo libidinoso,
   Logo mais m`o dirás na Broadway e lustroso!

O MAGO
   Hás de sentir na entranha um especial efeito.

CATARINA HELM (para Freder)
   Vem depressa comigo e rápido levanta.
   Conduzo-te. Precisas transpirar perfeito.
   Depois te ensinarei da nobreza a espúria
   Ociosidade. Assim sentirás a luxúria,
   E na manta, compreenderás dos ricos o leito!

FREDER PAZ
   Deixa-me um pouco mais do espelho contemplar,
   Imagem tão bela de mulher que veio à se mostrar.

CATARINA HELM
   Logo mais, de todas as belas, a mais temente
   Das mulheres terás, bem viva, à tua frente!

                             (falando baixo)

   Depois que o elixir do mago venderes,
   Logo Helenas terás em todas as mulheres.







LA RAMBLA


Freder se encontra rejuvenescido pelo elixir do mago. Verônica passa.



FREDER PAZ
   Será muita ousadia
   Oferecer-te a minha companhia?

VERÔNICA
   Prefiro regressar sozinha ao navio.
   Agradeço-te de todo e desculpe-me o desvio.

                               (livra-se de Freder e segue)

FREDER PAZ
   Que linda criatura!
   Parece delicada; honrada e um pouco ousada!
   Tens jeito de orgulhosa, mas que gata figura!
   Os lábios vermelhos, as faces rosas,
   Livrou-se sorrateira e largou-me em brasas.

                               (Catarina entra)

   Conheces essa linda moça?

CATARINA HELM
   Qual?

FREDER PAZ
   A bela que passou deixando o rastro.

CATARINA HELM
   É prenda muito pura e inocente para buscar-me.
   Por qualquer coisinha anda ao choro, em cantos,
   Dela não poderei conseguir nada, algum espanto?

FREDER PAZ
   Entre um e dois contratos julgo o seu embarque.

CATARINA HELM
   Deves então apressar a sua investida, não marque!

FREDER PAZ
   Deixa-me em paz e afirmo-te alto e claro:
   Se essa doce e altiva mulher for mo reparo,
   E aos meus braços ela logo estiver de fato,
   Cessará por vez todo nosso antigo pacto!

CATARINA HELM
   Reflete com bom senso e dentro do viável!

FREDER PAZ
   A jovem beldade conquisto e faço-me crível.

CATARINA HELM
   O ânimo aflito é inimigo do bom gozo.
   Tens calma que logo a bonequinha,
   Em prazer assim e menininha,
   Deixa-te, da banal conquista, orgulhoso!

FREDER PAZ
   Eu disso preciso a ter e tanto desejo.

CATARINA HELM
   Não podes avançar tão depressa no almejo.
   Conquistá-la não vais usando a violência.
   É necessária astúcia e alguma paciência.

FREDER PAZ
   Rogo-te que algo descubra sobre esse tesouro.
   Conduz-me ao teu ninho que te verto de ouro!
   Traz-me ao menos um lenço, o que usavas,
   E dessa sede que pertenço logo faz favas!

CATARINA HELM
   Para que te possas sugar ao mel,
   À tua ansiedade por em fel,
   Da minha cumplicidade ser-te sublime,
   Esta noite mesmo levo-te, a dela, cabine!

FREDER PAZ
   Poderei vê-la? Possuí-la?

CATARINA HELM
   Calma! Ainda não!
   Verás de perto o teu sonho e com toda elegância,
   Da cabine em que vive e, risonho, vais aspirar da fragrância!

FREDER PAZ
   Devemos logo andar.

CATARINA HELM
   É muito cedo ainda.

FREDER PAZ
   Devo adquirir presente bem lindo.

CATARINA HELM
   Presenteá-la! Bravo! Será de ti escrava!
   Conheço bons lugares para achar presentes,
   Esses mimos todos que me dão os clientes.
   E assim ponho-te aos meus pés como estava.

 
 
 
 
 
 
  É NOITE. NO NAVIO



Uma cabine pequena e muito limpa.



VERÔNICA (Prendendo as tranças.)
   Quem será o rapaz que me abordou na rua?

   Olhou-me com profundo respeito,
   Tem no semblante um alto conceito.
   Um tanto ousado ao querer-me sua.

                          (Catarina e Freder estão no corredor)

CATARINA HELM
   Na porta batemos bem devagar.

FREDER PAZ
   Peço-te, por favor, deixa-me ficar a sós.

CATARINA HELM
   Nem por todas as donzelas tem igual pudor!

FREDER PAZ (olhando em redor no corredor)
   Respira-se em redor aroma de candura,
   Revelas tudo em ordem, doce brancura.
   Neste cárcere, vibra tua nota a mais limpa
   Dentre o conjunto. Recebe-me no mapa,
   Em teu ventre repousado.
   Essa linda menina, os lábios infantis,
   Tu serias de Dante a Beatriz?
   Ou de Goethe ainda a Guida?

(lança-se ao chão no assoalho um tapete adornado)

   Mãos tão queridas, divinal pureza!
   Transforma esse canto, breu, com destreza.
   Gostaria de ficar assim em eterno clarim!
   Da melodia celestial fizeste orquestra vivente,
   Aqui entrou criança e agora és muito ardente.
   E nos, que nos arrastou assim a tanto excesso?
   És ainda Freder? Não mais o reconheço?
   Envolvi-te o vapor de grande hipocrisia,
   Que vos tenta, inebria e conduz em demasia!
   Em mil sonhos de amor me sinto enternecer!
   Cairia aos seus pés, humilhado, e sempre hei descer.

CATARINA HELM
   Vamos, ela já sai! A ouço no que vai.

FREDER PAZ
   Fora! Fora daqui! Jamais me arriscarei.

CATARINA HELM
   Tens aqui esta planta um tanto pesadinha,
   Que algures no restaurante achei.
   Coloca-a depressa na soleira e em surdina,
   Logo é presente dado e bem ti dei.

FREDER PAZ
   Não sei se devo ousar?

CATARINA HELM
   Por que tens tanto medo?
   A tanto despudor em segredo,
   Que a mim poupa dissabor e cedo.

(põe a plantinha em frente á porta da cabine de Verônica)

   Vamos! Depressa e deixas estar
   Que na doce e linda jovem, a prenda,
   O desejo logo faz despertar!

                                   (saem)

VERÔNICA (de dentro da cabine)
   O ar está pesado, estranho e abafado,
   Corre-me um calafrio no corpo alado.

                   (começa a cantar enquanto se despe)

   Deu-lhe a amada a suspeitar
   Que virás em ouro me amar.
   Os olhos de vibrações em lágrimas
   Encher os corações quase a finar.

   No castelo e ao pé do mar.
   No castelo e ao pé do mar.

   Agitada pelo vento
   Vivo pelo teu alento.

   No castelo e ao pé do mar

   Em ouros não vens e caiu
   Na rebentação vi-te afundar
   Nunca mais de mim saiu.

(Verônica abre a porta para ventilar a cabine e encontra a plantinha)

   Quem aqui colocou essa linda plantinha?
   Enquanto estava trancada a buscar companhia.

                       (examina a planta em vaso)

   Presumo alguém a trouxe aqui como favor.
   Jamais no mundo vi presente de tal labor.
   Em navio brilharia em alta distinção,
   Pois não há joalherias que vi faça menção.
   Há quem remeteria essa imensa loucura?
   Assim toda tocada diria: serei eu?
   De que vale a beleza e tanta virtude
   Se passas despercebida; a nada alude?
   A luxúria tudo alcança,
   A pobreza que ao mar lanças!






PARC GUELL


Passeio.


Freder pensativo vai e vem. Encaminha-se para ele Catarina.



CATARINA HELM
   As pragas infernais, eu soltaria, se a conhecesse mais!

FREDER PAZ
   Que tens? Que te atormentas e enfureces assim?

CATARINA HELM
   Entregar-me ia ao demo se não o fora o que temo!

FREDER PAZ
   Aliás, te assenta bem como louca e furiosa, presumo.

CATARINA HELM
   A planta que arranjei entregue a Verônica,
   Um padre da segurança a pegou sem harmônica.
   Logo começou, cismado, a esbravejar;
   Os velhos tem o faro esperto, muito fino,
   Seguem todo dia ao seu confessionário
   A saber se os objetos tem tino ou são do mar!
   Que não era uma coisa pura e abençoada
   Logo disse à abobada:
   “Filha” –gritou- “um bem mal tens aqui
   Dado a tua alma um sangue que devora
   Consagremos a coisa à Virgem Mãe de Deus
   E virá consagrar-nos, se não, é adeus para ti!”
   Menina Verônica o peito consternado,
   Logo argumentou: “mas é presente dado!”
   O padre mandou logo chamar um sacerdote
   Oficial que já ouvira falar daquele dote.
   Deslumbrado ficou com os olhos a mirá-lo,
   A Igreja tem estômago amplo para comportá-lo!
   Tanto assim que tripulações inteiras devorou!

   Pode bem tão mal ganho levar-me e vou!

FREDER PAZ
   Em qualquer religião, apossar dos bens é natural!

CATARINA HELM
   Nem mesmo agradeceu, o imundo animal.
   Faz promessas a todas de bens sem iguais,
   E sobre eles se elevam esperanças infernais!

FREDER PAZ
   E Verônica?

CATARINA HELM
   Está muito inquieta.
   Não sabe o que quer ou o que fazer, a maleta.
   Só pensa na planta, toda aflita,
   E no desconhecido autor da cortesia.

FREDER PAZ
   Não podes conseguir outro presente igual?
   O primeiro nem era assim fino, era mato tal?

CATARINA HELM
   Aos amigos isso tudo é dança.

FREDER PAZ
   Nem mesmo que agarres a toda governança,
   Não sejas, demoníaca, uma molenga infernal!
   Arranja-me logo um presente como igual.

CATARINA HELM
   Já já meu bom tripula, e o faço com gula!

                              (Freder sai)

   Assim explode um tolo estando apaixonado.
   Em louca emoção ignora as regras! A elas,
   É capaz de dar-se completo ao ser amado.
                               (sai)







NA CABINE DA VIZINHA



JEDÍ (sozinha)

   Meu querido companheiro desembarcou
   Mundo afora. Aventureiro me largou,
   Deixando-me assim, nessa barca a sofrer!
   Eu nunca lhe fiz mal, Deus sabe, o amor é real!
   Quem sabe se morreu? Pr´aonde embarcou?

                            (Chora. Entra Verônica.)

VERÔNICA
   Senhora dona Jedí.

JEDÍ
   Oh, Vero, é só entrar.

VERÔNICA
   Outra plantinha acabo de encontrar.
   É pequena, bem mimosa, um primor!
   Mas bela que obra feita por algum pintor.

JEDÍ
   Dessa vez não deves com alguém nada dizer!
   Se não logo correm ao padre por puro desprazer!

VERÔNICA
   Ah! Observa-a bem e vê a sua estrutura.

JEDÍ
   És de tal feliz textura.

VERÔNICA
   Não me arrisco sair a bordo. Inspira inveja,
   Assim não me vêem com presente, a igreja.

JEDÍ
   Deixa aqui a planta somos amigas mulheres.
   Virá vê-la a minha cabine às vezes que quiseres!
   Procura um bom motivo, uma festa,
   Para que disso descubra ao amor o atesta.

VERÔNICA
   Quem haveria de dar-me essas duas plantinhas?
   Não parece-me bem tê-las assim se não fores minhas?

                                    (batem a porta)

   Valha-me Deus, é a segurança.

JEDÍ
   Uma moça estranha. Olha... pode entrar!

                                  (Catarina entra.)

CATARINA HELM
   Pretendo apresentar-me sem leviandade
   Com Jedí Artacho desejo amizade.

JEDÍ
   Sou eu. Em minha casa que vens procurar?

CATARINA HELM (falando baixo)
   A vejo sempre uma nobre elegante,
   À tarde pretendo voltar, a ti é o bastante.

JEDÍ
   A senhora julga ser alguma oficial?

VERÔNICA
   Sou jovem, humilde e pobre.
   É muita bondade, oh Deus!
   Esse presente soa como esnobe.

CATARINA HELM
   Muito feliz serei se puder demorar
   E um pouco a ti abençoar.

JEDÍ
   Há notícias a me dar? Estou ansiosa!

CATARINA HELM
   Preferia trazer-te uma alegre mensagem,
   Teu companheiro está morto. Coragem!

JEDÍ
   Está morto! Que dor!
   Meu companheiro adorado
   Eu morrerei ao teu lado!

VERÔNICA
   Bondosa mulher, em vão, não te desesperes!

CATARINA HELM
   Ouça agora essa história, é triste se puderes...

VERÔNICA
   Uma perda como essa, a mim, seria a morte!

JEDÍ
   Conta-me como foi a sua extrema agonia.

CATARINA HELM
   Deixou-me um pedido alto e bem penoso:
   Nada trago nos bolsos, sei que é doloroso.

JEDÍ
   Nenhum vintém ou endereço a me dar?
   Mesmo que passe fome em sua lápide ia-me rezar!

CATARINA HELM
   De tantos infortúnios, muito se queixou.
   Se arrependeu de pecar, da loucura,
   Logo deram-no, com arame em pescoço,
   Oh! Tão fatal esboço, a cura!

VERÔNICA
   Tenho pena dos homens. Tanto desentendimento...

CATARINA HELM
   Ser-te-ia melhor ganhar um casamento.
   És jovem, muito bela, e isso te convém.

VERÔNICA
   Ainda não penso em tal coisa. Jamais!

CATARINA HELM
   Não digo marido, mas pelo braço exibir bonito rapaz.

VERÔNICA
   Mesmo que seja ousado.

CATARINA HELM
   Sendo ou não usado, é certo domá-lo.

JEDÍ
   Descreve-me a sua morte!

CATARINA HELM
   Estive junto ao cais em findo momento.
   Mas de ti lembraste no embotamento.
   Gritou – “me odeio a mim mesmo!
   Mata-me a lembrança atroz e dolorida,
   Que ela me perdoe nesta vida.”

JEDÍ (chorando)
   Ah meu bom oficialzinho. Há muito te hei perdoado.

CATARINA HELM
   Sabe Deus, mas que eu ela há pecado.

JEDÍ
   Nunca. Isso é o cúmulo.

CATARINA HELM
   Nunca pode um bom bocado saborear!
   Que reste assim sem reclamar; no túmulo!

JEDÍ
   E a dor que dia e noite me causou descendo.

CATARINA HELM
   Novo barco pegou. Dos turcos, outro navio.

JEDÍ
   Onde foi? Quando foi? Era meio de curto pavio.

CATARINA HELM
   Os quatro ventos tudo levaram.
   Em Nápoles passou e amaram.
   Quem sabe?

JEDÍ
   Também toda miséria a essa enorme peçonha.
   Ladrão! Não pude evitar passar a vergonha.

CATARINA HELM
   Não deves por em luto, tu, e logo outro catará.

JEDÍ
   Neste navio é difícil um outro como ele.
   É pena que adorasse assim as mulheres
   Às bebidas é os pós puros algures.
   E o tal jogo do mal dinheiro dele.

CATARINA HELM
   Assim as coisas vão muito melhores:
   Fez-lhe muito das suas,
   Fizeste-lhe muito das tuas.
   Contigo trocaria o papel na ocasião.

JEDÍ
   A senhorita é dada a brincadeiras.

CATARINA HELM
   É bom que eu dê o fora.

                        (dirigindo-se a Verônica)

   Que diz o desejo ardendo no teu corpo?

VERÔNICA
   Que pensas a respeito?

CATARINA HELM
   Mas que pura menina!

                           (falando alto)

   Até logo, senhoras!

VERÔNICA
   Até logo.

JEDÍ
   Dize-me ainda, por favor, por sorte,
   Poderei ler no jornal a notícia da morte?

CATARINA HELM
   Sim, mulher, se descobre a verdade.
   Mandarei aqui capitão de maior lealdade.

JEDÍ
   Então vais buscá-lo?

CATARINA HELM
   E esta linda menina estará a esperá-lo!
   É um belo rapaz, distinto, viajado.
   Com qualquer senhorita, afável, delicado.

VERÔNICA
   Irei corar, eu sei, em frente ao cavalheiro.

JEDÍ
   No jardim, em Pisa – chegaremos primeiro –
   Falaremos à noite, a vos, os dois.







EN LA SAGRADA FAMÍLIA



FREDER PAZ
   Então está tudo armado,
   Logo mais será minha.

CATARINA HELM
   Bravo! Encontro-te enfim a pegar fogo.
   A linda Verônica há de ser tua logo.
   É uma boa criatura, novinha,
   Espécie de cigana!

FREDER PAZ
   A descreves com maestria.

CATARINA HELM
   Mas algo há de mo ser valia.

FREDER PAZ
   O favor bem merece o que for exigido.

CATARINA HELM
   Devemos dar testemunho do corpo de Borges.
   Enterrado está em Salvador, aos peixes, deixado.

FREDER PAZ
   Foi muito bem pensado

CATARINA HELM
   É só testemunhar, sem muito investigar.

FREDER PAZ
   Se nada diz melhor, o trato está desfeito.

CATARINA HELM
   Santa criatura, alma sem defeito?
   É o primeiro momento que deves prestar,
   Um falso depoimento armar.
   O fazes com vigor, força e convicção.
   Devo-te sempre ensinar a lição?
   Quanto sabes do fim do senhor Miroslav?

FREDER PAZ
   Prossegues, mentirosa e ardilosa golpista.

CATARINA HELM
   Acaso não quer, amanhã, toda quente e sã,
   A pobre Verônica ter e seduzir?
   E em todo o teu prazer a consumir?

FREDER PAZ
   De todo o coração.

CATARINA HELM
   Muito bem, avante! Belo!
   Será esse amor, fiel, sublime e eterno.

FREDER PAZ
   Deixa disso. Está bem, já a sinto pura e terna,
   A esse fogo intenso que tanto me inflamo.
   De infinito e eterno o gozo clamo,
   Será isso uma farsa infernal, na caverna?

CATARINA HELM
   Mesmo assim a tens como certa.

FREDER PAZ
   O teu palavreado capcioso logo leva-me ao tédio.
   Dou-te logo a razão. Não vejo outro remédio.

OS DOIS
   Barcelona! tens amor certo,
   Mas tudo nubla ao esperto!

                                    (saem)





Tens aqui esta planta um tanto pesadinha,
Que algures no restaurante achei.
Coloca-a depressa na soleira e em surdina,
Logo é presente dado e bem ti dei.


Porto de Barcelona, España.

Barcelona, Cataluña. España.

Barcelona

Barcelona

Park Guell - Barcelona. España.

Park Guell - Barcelona. España.



Park Guell - Barcelona. España.

Barcelona. Cataluña. España.

Park Guell - Barcelona. España.

Park Guell - Barcelona. España.

Park Guell - Barcelona. España.

Park Guell - Barcelona. España.

Park Guell - Barcelona. España.

Park Guell - Barcelona. España.

Park Guell - Barcelona. España.

La Rambla. Barcelona. España.

La Rambla. Barcelona. España.

La Rambla. Barcelona. España.

La Rambla. Barcelona. España.

La Sagrada Familia


Deu-lhe a amada a suspeitar
Que virás em ouro me amar.
Os olhos de vibrações em lágrimas
Encher os corações quase a finar.

No castelo e ao pé do mar.
No castelo e ao pé do mar.

Agitada pelo vento
Vivo pelo teu alento.

No castelo e ao pé do mar

Em ouros não vens e caiu
Na rebentação vi-te afundar
Nunca mais de mim saiu.




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